Um amigo de Itabaiana, de minha geração, alguém que pensa um pouco além do próprio umbigo, com um mínimo de atenção ao interesse público, me procurou pedindo para escrever alguma coisa a respeito de uma realidade triste na nossa cidade, que é a rivalidade política levada às últimas consequências, gerando ódio, discriminação e injúria.
A política partidária sempre foi um elemento fundamental no imaginário social itabaianense. Não vai longe o tempo das brigas políticas do Dr. Antonio Santiago contra o líder José Silveira, de Josué Dias versus Padre João, sempre uma ala contra a outra em lutas eleitorais memoráveis. Mas quando terminava a batalha, todo mundo voltava a ser amigo, os contendores demonstravam apreço entre si. Nas festas da Conceição, os pavilhões dividiam apenas as meninas do Azul e do Encarnado. Os políticos estavam juntos, confraternizando, em um tempo no qual a ética e o cavalheirismo ainda respiravam.
Os puxa-sacos sempre existiram, porém acho que antigamente até esses piolhos tinham mais dignidade. Hoje o que se vê são figuras sem talento, mas hábeis para fazer maldades, sempre esvoaçando em torno do chefe, criando intrigas e mexericos. No nosso mapa de navegabilidade social, esses elementos são uma espécie de alga venenosa, organismos que vivem de outros organismos, provocando o mal e a discórdia, atrasando o progresso e aviltando a dignidade humana. Quando vejo essa gente abanando o rabo como cachorros servis, penso que esse pessoal é a pior praga do século XXI. Eles brotam da sombra de quem tem o poder. Um pouco de História: de acordo com o professor Mário de Melo, o termo “puxa-saco” teria surgido nos quartéis militares. Isso porque os soldados eram obrigados a carregar alimentos e roupas em sacos, tanto os próprios quanto os de seus superiores hierárquicos. Puxar esses sacos virou sinônimo de submissão, e os “puxa-sacos” passaram a definir todas as pessoas que bajulam aqueles que, em seu campo de visão, estão um passo à frente. Então o soldado puxa o saco do cabo, que puxa o saco do sargento, que por sua vez puxa o saco do tenente.
Mas a grande tragédia de Itabaiana nem é o puxa-saco, e sim a cultura do ódio político que envenena as relações sociais. Além disso, causa imenso prejuízo para o serviço público. Porque, segundo Hannah Arendt, meditando sobre a “banalidade do mal”, não há ódio pessoal na máquina burocrática, mas o cara que opera essa máquina está carregado de ódio. Assim, ele vai perseguir o adversário político e beneficiar os amigos, vai simplesmente procurar exterminar qualquer ideia ou ação, mesmo a mais benéfica para o povo, se a sua origem é alguém ou alguma instituição “do lado de lá”. Por isso o atraso da cidade.
O que acontece em Itabaiana certamente é “moeda corrente” na grande maioria das demais cidades pequenas desse imenso Brasil, que contabiliza o absurdo de quase 6.000 municípios. Entretanto, sem saudosismo, antigamente não se pisava tanto na ética, havia mais harmonia e superação de baixas paixões.
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