terça-feira, 30 de março de 2010

Cultura do ódio


Um amigo de Itabaiana, de minha geração, alguém que pensa um pouco além do próprio umbigo, com um mínimo de atenção ao interesse público, me procurou pedindo para escrever alguma coisa a respeito de uma realidade triste na nossa cidade, que é a rivalidade política levada às últimas consequências, gerando ódio, discriminação e injúria.

A política partidária sempre foi um elemento fundamental no imaginário social itabaianense. Não vai longe o tempo das brigas políticas do Dr. Antonio Santiago contra o líder José Silveira, de Josué Dias versus Padre João, sempre uma ala contra a outra em lutas eleitorais memoráveis. Mas quando terminava a batalha, todo mundo voltava a ser amigo, os contendores demonstravam apreço entre si. Nas festas da Conceição, os pavilhões dividiam apenas as meninas do Azul e do Encarnado. Os políticos estavam juntos, confraternizando, em um tempo no qual a ética e o cavalheirismo ainda respiravam.

Os puxa-sacos sempre existiram, porém acho que antigamente até esses piolhos tinham mais dignidade. Hoje o que se vê são figuras sem talento, mas hábeis para fazer maldades, sempre esvoaçando em torno do chefe, criando intrigas e mexericos. No nosso mapa de navegabilidade social, esses elementos são uma espécie de alga venenosa, organismos que vivem de outros organismos, provocando o mal e a discórdia, atrasando o progresso e aviltando a dignidade humana. Quando vejo essa gente abanando o rabo como cachorros servis, penso que esse pessoal é a pior praga do século XXI. Eles brotam da sombra de quem tem o poder. Um pouco de História: de acordo com o professor Mário de Melo, o termo “puxa-saco” teria surgido nos quartéis militares. Isso porque os soldados eram obrigados a carregar alimentos e roupas em sacos, tanto os próprios quanto os de seus superiores hierárquicos. Puxar esses sacos virou sinônimo de submissão, e os “puxa-sacos” passaram a definir todas as pessoas que bajulam aqueles que, em seu campo de visão, estão um passo à frente. Então o soldado puxa o saco do cabo, que puxa o saco do sargento, que por sua vez puxa o saco do tenente.

Mas a grande tragédia de Itabaiana nem é o puxa-saco, e sim a cultura do ódio político que envenena as relações sociais. Além disso, causa imenso prejuízo para o serviço público. Porque, segundo Hannah Arendt, meditando sobre a “banalidade do mal”, não há ódio pessoal na máquina burocrática, mas o cara que opera essa máquina está carregado de ódio. Assim, ele vai perseguir o adversário político e beneficiar os amigos, vai simplesmente procurar exterminar qualquer ideia ou ação, mesmo a mais benéfica para o povo, se a sua origem é alguém ou alguma instituição “do lado de lá”. Por isso o atraso da cidade.


O que acontece em Itabaiana certamente é “moeda corrente” na grande maioria das demais cidades pequenas desse imenso Brasil, que contabiliza o absurdo de quase 6.000 municípios. Entretanto, sem saudosismo, antigamente não se pisava tanto na ética, havia mais harmonia e superação de baixas paixões.

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