Ter um bom curriculum vitae é fundamental para arrumar um bom emprego. As pessoas que oferecem aos contratantes o melhor curriculum vitae e melhores cartas de apresentação são pré-selecionadas e candidatas bem-sucedidas. Certo? Nem tanto.
Pelo menos na empresa de certo sujeito excêntrico, da área de serviço, o oposto é que é verdadeiro. O cara escolhe seus empregados a partir de curriculum ao contrário, isto é, o candidato tem que apresentar seus defeitos, mostrar seu lado negativo. “Gostamos das pessoas pelas qualidades, mas amamos pelos seus defeitos”, esclarece o esquisitão.
Se o nobre amigo ou a digníssima senhora que me lê neste momento fosse procurar emprego na firma desse empresário extravagante, como seria o curriculum? Andei mexendo no arquivo da sessão de pessoal da firma. Eis alguns currículos:
Sou do tipo buchudo, com excesso de tecido adiposo, calvo, mandrião, descansado, não ligo pra nada, um sujeito comum, sem grandes qualidades, daqueles que não são bons na sua profissão e botam a culpa no mercado. Sou cheio de dúvidas. Não sei se pego pesado. Não sei se me faço de bobo. E acabo na merda. Sou aquele mais ou menos, que só passava com média sete, que nem fede nem cheira. Enfim, sou um zé ruela qualquer.
Sou uma mulher quadrúpede dos cabelos aloirados. Não tenho muito conhecimento das tarefas do emprego a que me proponho, mas confio no meu poder de atração para crescer na empresa. Gosto da arte do bajulismo, sou perita em incensar chefe medíocre, dependendo do ganho posso até fazer hora extra. Para ser promovida, um dia servi de barriga de aluguel para o chefe e sua esposa infértil. Sou do tipo egoísta. Para me vender ao empregador e competir contra outros empregados que também tentam se vender, sou capaz de qualquer coisa. Mas não acredite muito nisso. Também sou bastante mentirosa.
Meu maior defeito é quase não ter deficiência técnica. Sou uma máquina bem azeitada e bem programada. Faço tudo a tempo e a hora, sem reclamar. Ser mais apelativo e sedutor que os demais é o grande desafio, por isso carrego nas tintas nesse curriculum, sabendo de antemão que não serei selecionado porque a moça encarregada da escolha é uma vaca que teve um caso comigo, corneando-me com o gerente para obter promoção. Como a maioria dos chefes desta empresa são uns crápulas, devassos e canalhas, jamais selecionariam um sujeito de bem, que só diz a verdade.
Sou o candidato adequado para a vaga, pois possuo as aptidões, experiência, comportamento, atitude e moralidade apropriados que o avaliador quer. Sou prestador de serviço em uma prefeitura, ganho uma miséria, não trabalho, vivo bajulando o prefeito e sua gang, na eleição sirvo como cabo eleitoral dos mais nojentos e babões, desses que carregam o candidato nas costas e não tomam banho depois, para conservar o odor das bufas do aspirante a chefe da quadrilha. O modo como faço intrigas e retransmito fofocas mostra efetivamente minha habilidade para me comunicar.
Pensei em fraudar o meu curriculum, colocando empregos que nunca tive e experiências não vivenciadas. Pensei melhor e resolvi procurar um amigo meu, sujeito criativo que me deu assistência para redigir o curriculum. Ele me mandou escrever frases e descrições positivas sobre mim mesma em meu modelo de curriculum. Ser modesto não funciona bem em nenhum curriculum vitae, disse ele. É fundamental enfatizar meus atributos com termos consistentes, relevantes e expressivos. Sou bonita, poderosa, tenho grande capacidade de compreender, adapto-me facilmente em todas as posições, sou versátil em penetração e felação, especialista em relações e entendimentos secretos, grande perícia em resolver situações problemáticas ligadas à energia motriz dos instintos da vida. Enfim, sou uma rapariga de alto coturno, meretriz sem mancha no seu curriculum de fêmea sedutora.
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