Sou amigo dos amigos e inimigo dos inimigos. Se estivessse numa sala com Hitler, Jack o estripador, o Diabo em pessoa e aquele meu inimigo, tendo apenas duas balas no revólver, eu atiraria no meu desafeto. Duas vezes.
Guardo rancor na geladeira, não vou mentir. Já para os amigos, sou uma mãe de leite. Quando Madame Preciosa perdeu sua virgindade, fui atrás, achei e coloquei de volta.
Se o meu inimigo acordar de manhã, é porque o diabo poupou sua vida. Eu, não. Se meu amigo acordar de manhã, ele sabe que pode contar comigo para achar a felicidade quando não encontrar no Google, onde tudo se acha.
Hoje, 14 de fevereiro, é dia da amizade. Para um amigo se abre a porta, mesmo que ele seja “Testemunhas de Jeová” tentando converter você.
Hoje sendo dia da amizade, minha camaradagem está muito resumida, sendo que a ingestão de cachaça lidera a causa de mortes entre meus antigos camaradinhas pé-inchados. São meus super-heróis, todos eles, os que já se foram e os que ainda estão sentados no tamborete do bar pé-sujo, esperando dar a hora pra tomar a saideira. Meus amigos nunca foram viciados em aguardente. A pinga é que é viciada neles.
Guardo um abraço especial no dia da amizade para aquele amigo que eu gostaria de ter. Eu só não, todo mundo! Criança não tem amigos secretos, invisíveis? Pois todo adulto também tem um amigo ideal na cabeça. Um cara de sorte, que joga roleta russa com uma arma totalmente carregada e ganha. Um sujeito peitudo, sem medo de nada, cuja vida é totalmente dedicada a resolver teus pepinos. Brigou na rua por causa de trânsito? Chama o amigo. Problemas financeiros? Ele dá um jeito, arruma emprestado, rouba, mas te deixa na boa. Ta com problemas de saúde? O amigão transfere as toxinas envenenadas para seu próprio corpo, depois toma um banho com ácido muriático e fica tudo bem.
Luiz Fernando Veríssimo chamou seu amigo invisível de “Cicatriz”, em uma crônica sobre o paraíso que seria ter um comparsa quebra-galho em tempo integral.
Mas quem eu gostaria mesmo de ter como amigo, esse super-homem inteiramente dedicado à minha felicidade, jamais se materializou porque sou um homem de pouca fé. Por isso invejo dona Mocinha, a vizinha que inventou uma santa e que acredita piamente no Filho do Homem, um super-herói nascido na manjedoura, ele que salva as pessoas de uma vida banal, medíocre, vazia, sem amor e sem graça. Essa antiga magia da imaginação coletiva, o “amigo invisível” dos adultos, tem ajudado a construir muitos homens e mulheres de bem. Não há maior bravura na vida do que ser um bom homem e uma mulher nobre, leal e generosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário