quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

DEU ZEBRA NA RODA


A proibição do jogo do bicho na Paraíba afeta 20 mil trabalhadores diretamente. A atividade foi atingida pela liminar do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, determinando que a Loteria do Estado da Paraíba (LOTEP) não mais expeça novos atos de autorização para a exploração de quaisquer modalidades de jogos lotéricos no Estado da Paraíba, independente da denominação.
Os cambistas estão desempregados e os bicheiros atrapalhados. O que será do deputado João Gonçalves sem essa fonte de renda? Elias da Banca, vereador de Itabaiana, e tantos outros políticos que vivem do bicho já não vão poder mais misturar atividade política com contravenção. A parte mais fraca, claro, sofre mais: Zé do Bar apurava todo mês seus 230 reais com a atividade de cambista. Isso para quem não tem quase nada é muito. O cambista defende a legalização dos jogos. “Não são poucas as pessoas que dependem desse trabalho. Não tenho carteira assinada, mas recebo comissão de 10% sobre os jogos que passo”, comenta Zé, desolado.

O “efeito renda” do jogo do bicho incide direta e indiretamente sobre 150 mil pessoas. Sem falar no lado lúdico e salutar desse jogo. Tem muita gente que vai ter esgotamento mental sem poder fazer sua fezinha todo dia. Minha vó era viciada na roleta zoológica. Nunca falhava com seus dez mil réis no avestruz.

Corretores zoológicos são os que recolhem as apostas na dezena, na centena ou na milhar, descarregam as apostas nos bicheiros e depois divulgam os resultados da extração, pagando religiosamente aos vencedores - não por acaso, apostar no bicho é "fazer uma fezinha"... Aquele papel mal escrito tem mais garantia do que cheque de certas prefeituras mal prefeituradas. Todo mundo tem uma história para contar sobre esse jogo. Eu passei vinte anos jogando na milhar 1587, a do Leão. No dia em que deixei de jogar, deu na cabeça.

O jogo já era mal visto pela sociedade no final do século XIX, como registra em sua primeira página o jornal Vicentino, publicado em São Vicente, em 2 de outubro de 1899:
“O jogo do bicho alastra-se, como erva nociva, que involuntariamente ele nos entra em casa até mesmo trazido pelo verdadeiro. Acautelem-se todos: não há garantia nenhuma, agora, contra o impudor do banqueiro, porque este não dá nem bilhete, nem cautela, nem recibo da aposta que é feita. O jogo, hoje, assenta na confiança e, Santo Deus, que confiança podem merecer essas harpias esfaimadas que com um riso canalha oferecem 20% sobre a aposta?”

Notar que naquele tempo nem pule havia. Era na base da confiança na palavra do banqueiro. Época em que a palavra de um homem merecia fé, até mesmo de um jogador clandestino.
No início do século XX, as sugestões de apostas eram divulgadas nos jornais, da mesma forma como décadas depois, restando na legalidade apenas as loterias controladas pelos governos. Já os resultados do bicho ilegal aparecem em enigmáticos papéis branco-azulados, colados em postes de iluminação e nas paredes dos bares.

Nenhum comentário:

Postar um comentário