Tião Lucena publicou as lamentações de Armando Abílio. Diz que Abílio resume assim seu queixume: “a disputa política está muito desigual. Veja só, o candidato a senador Vitalzinho botou a mãe, Nilda, como candidata a deputada federal. O outro candidato a senador, Wilson Santiago, botou o filho também como candidato à Câmara. Olhe, jornalista, eu não faço questão de ser cu, mas gostaria que deixassem eu ser pica pelo menos uma vez na vida."
Pobre do Armando, tratado com tanto desprezo pelos seus cupinchas. Mais reclamações tem o eleitor, bombardeado dia e noite pela propaganda infame dos candidatos. Olhe, aqui em minha casa, de meia em meia hora passa um tal que tem o número de famoso e antigo caminhão da Mercedes. Esse foi o diabo que mandou. A Justiça Eleitoral fez o favor de cancelar meu título de eleitor, por isso estou desobrigado totalmente de entrar na fila dos sufragistas. Mas se eu fosse votar, nem se fosse para ganhar a vida eterna eu votaria nesse tal candidato. Eles fizeram uma musiquinha estúpida que fica chacoalhando em nosso ouvido o dia todo. O suplício vem abalando minha comunidade, que tá também achando muito desprazerosa a campanha desse “Mercedinha”.
Os nobres candidatos são vazios de propostas. Além disso, são chatos que botam chulé em pé de mesa, como o candidato meu vizinho. Em política são os chatos que se sobressaem, que todos têm muita cara de pau e nenhum sentimento da própria honra.
Conheci todo tipo de chato de eleição. Tem o chato “Guarda-chuva”, que fala cuspindo a cara do freguês; chato “Alto-falante”, com aquele vozeirão berrando em nosso ouvido de eleitor babaca; chato “Boca de sovaco”, aquele que insiste em falar quase agarrado ao interlocutor, com aquele bafo de onça em jejum. E o chato Mor, que é o próprio candidato, insuperável em maçar o eleitor. Pois a gente vai eleger o “Mercedinha” como o maior chato desta eleição, pela menos na jurisdição onde moro.
Dizem que esse candidato é mais infiel do que mulher libertina amancebada com homem acornalhado e fraco de visão. Dorme com um candidato a governador e acorda com outro.
Leio nas folhas que o Guia Eleitoral vai vender os candidatos como se vende iogurte. Desconfio que vão tentar vender iogurte vencido, fora da validade ou fabricado com leite de avelós.
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