quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Memórias de Luis Buñuel
Depois dos cinquenta, a gente vai tendo aquela angustiante sensação de que vai acabar a festa e não vimos tudo, não comemos e bebemos o que era fundamental, não tivemos os prazeres indispensáveis para quem passou por essa vida.
Lamento não ter visto muitos lugares com os quais sonhei a vida toda, e onde jamais estarei, por absoluta falta de recursos materiais e até por falta de fôlego mesmo, que o organismo já apresenta falhas no carburador e retentor de válvula.
Acabei de ler o livro de memórias do genial cineasta espanhol Luis Buñuel, “Meu último suspiro”, escrito quando ele contava 80 anos de idade. Três anos depois, morreu na cidade do México. Luis é realizador de pelo menos 20 filmes considerados obras primas do cinema mundial, e eu descubro que nunca vi nenhum deles! Na televisão, impossível, porque eles programam filmes para débeis mentais, praticamente só porcarias americanas. Se algum compadre tiver cópia, por favor empreste “A idade de ouro”, “Susana, mulher diabólica”, “Via láctea”, “O discreto charme da burguesia”, “Esse obscuro objeto do desejo”, “O fantasma da liberdade” ou qualquer outra fita do Buñuel.
A biografia do cara é de ótima qualidade. Recomendo. Fala dos filmes, de política, de arte e de seus demônios interiores. O último capítulo, ele chamou de “Canto do cisne”. Resumo: “De acordo com as últimas informações, temos bombas atômicas suficientes não somente para destruir qualquer vida na terra, mas também para arrancar a terra de sua órbita. Pesquisa recente comprova que entre setecentos cientistas altamente qualificados atualmente trabalhando no mundo, quinhentos e vinte mil se esforçam para aperfeiçoar os meios de morte, para destruir a humanidade. Somente cento e oitenta mil pesquisam os métodos de nos salvar. As trombetas do Apocalipse soam ás nossas portas e nós tapamos os ouvidos. Todos os males que nos assolam decorrem dos quatro cavaleiros do Apocalipse: a superpopulação, a ciência, a tecnologia e a informação”.
Luis Buñuel considera que a informação, apesar de ser apresentada como uma conquista e um direito, “talvez seja o mais pernicioso dos Cavaleiros do Apocalipse” que irão nos destruir.
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