sexta-feira, 6 de agosto de 2010

No dia dos pais, um presente triste...


No dia 8 de agosto, domingo, Dia dos Pais, vou a Sapé visitar meu velho. Nesse dia a gente pratica uma espécie de egoísmo bom. Porque o ato de estar com alguém como nossos pais, mesmo que seja uma visita protocolar, nos acomoda a consciência que teima em apontar nossa ausência em quase todos os demais dias do ano.

Meu pai Arnaud Costa foi jornalista, funcionário público por 40 anos, desportista, Mestre Maçom, tribuno, advogado, político e escritor. Auto didata, amava os livros. Hoje, com opacidade parcial nos olhos, não consegue ler. Eis a ironia: vou levar de presente meu último livro, “Biu Pacatuba – um herói do nosso tempo”.

Isso é coisa que muito me consterna, digo para meus dois leitores: eu mesmo e o corretor eletrônico do computador. Com a melancolia de quem perdeu toda a inocência, lembro meus dias de garotinho quando seguia os passos do pai, junto com meu irmão mais velho, nas noites de Itabaiana, no calçadão do “boato”, nas assembléias políticas, nos bate-papos das calçadas e no campo de futebol. Ele gostava de andar com os seus dois meninos, com anseios de ter em seus herdeiros “homens conhecedores da vida”.

Mas é isso, meu timoneiro hoje não consegue ler meu livro. A obra em si mesma não é lá essas coisas, mas o pai sempre vê o trabalho do filho livre de falhas ou defeitos. Aí é onde mora a ironia: meu pai não consegue ver. Filosofia de botequim: não vê com seus olhos cansados e lesionados, mas enxerga com as vistas da alma, porque o essencial é invisível aos olhos, conforme afirmou Saint-Exupéry, o o filósofo das misses.

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