sexta-feira, 23 de julho de 2010

O pangaré da oposição


Encontrei meu amigo Renato Almeida na rodoviária de Itabaiana e ele me perguntou de chofre: “quem foi o candidato a vice-prefeito na chapa de Arnaud Costa?” Confesso que não sei a resposta, vou perguntar ao meu pai.

Renato Almeida é filho do finado Nô Almeida, político das antigas em Itabaiana. Junto com Arnaud Costa, Edmilson Batista, Zé Silveira, Zé Pedro Araújo, Zé Crente, João Quirino Neto e outros expoentes da política local, nos idos das décadas de 50/60/70, faziam a linha de frente do Partido Social Democrata, depois Movimento Democrático Brasileiro. João Quirino era o próprio partido personificado. Dedicou a vida inteira à política, sem nunca ter amealhado um tostão nessa atividade. Eram políticos que gostavam da missão voluntária de ajudar a coletividade. Nasceram predestinados para o bem comum.

Renato Almeida lembra episódios envolvendo um punhado de conterrâneos durante as agruras da ditadura militar. Irrompendo o golpe, o Exército passou a perseguir os homens do PSD. Por motivos jamais sabidos e revelados, as forças armadas acharam de ir ao encalço de cidadãos tipo Zé Crente, cujo único crime é dissimular um pouco a verdade quando conta causos de sua vida aventurosa no Rio de Janeiro. Corriam atrás de pessoas como seu Candinho, proprietário de terras que estava a duzentos mil quilômetros de distância de um comunista, só porque o homem um dia foi candidato a prefeito pelo PSD.

Mas o fato é que, volta e meia, o Exército dava buscas para prender os políticos populistas de Itabaiana. A rápida retirada das tropas da oposição se dava para os sítios na zona rural, escondendo-se em casas de amigos. Renato garante que numa dessas fugas, meu pai Arnaud Costa escapou em um pangaré que atendia pelo nome de “Mamão”, pertencente ao respeitável fazendeiro Zé de Paulo, membro do partido, amigo dos líderes Humberto Lucena e Rui Carneiro. Arnaud saiu a galope para o sítio Caldeirão, escondendo-se dos “verde oliva” provocadores do terror naquela pequena e pacata comunidade itabaianense. Meu pai era muito visado: foi quem redigiu o manifesto oficial de repúdio à ditadura a mando do seu chefe, o prefeito Hugo Saraiva.

Lembro-me bem, apesar de contar apenas uns nove anos de idade, quando irrompeu o golpe militar. Meu pai empreendeu a primeira fuga junto com seu amigo Josué Dias de Oliveira, irmão de Sivuca. Foram parar no interior de Pernambuco, em um lugar chamado Salgadinho. Nem o longo tempo decorrido conseguiu apagar-me da memória o estado de pavor em que ficou nossa família. À boca da noite de um certo dia de 1964, parou um jipe em nossa porta, de onde desceram uns soldados armados de fuzil procurando meu pai. Um oficial da cara miúda de sagui, com um sorriso sarcástico, fazia perguntas à minha mãe. Para ser sincero, acho que veio dali minha ojeriza, meu sentimento de antipatia por tudo que seja militar.

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