domingo, 11 de julho de 2010

Domingo com João Cabral de Melo Neto

Você acha que no mundo alguém imaginou um poema sobre o ato de catar feijão
para botar o feijão para cozinhar?

Você vê que em geral o sujeito escreve, escreve sobre o espírito santo que desceu, escreve sobre o já poético.

Eu tenho a impressão de que você deve fazer poesia procurando elevar o não-poético à categoria de poético.

"João Cabral de Melo Neto"



"...E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina."
(Morte e Vida Severina)

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