Em 1958, um rinoceronte virou celebridade em São Paulo. “Cacareco”, o nome da fera, fez-se rei do zoológico, saindo até em coluna social. Virou celebridade. Na eleição daquele ano, “Cacareco” foi eleito vereador com mais de 100 mil votos, o candidato mais votado. No jornal Última Hora, Stanislaw Ponte Preta comentou que "diversos membros da cúpula do PSP andaram rondando a jaula de Cacareco, para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros".
Saudades do tempo em que o eleitor podia se vingar da canalhice política votando em rinoceronte, bode, “Amigo da Onça”, veado, ou nele mesmo. Era o tempo da cédula de papel.
Hoje meu compadre Ivaldo Gomes quer dar seu voto de protesto e o máximo que pode conseguir é seu voto ser considerado um erro pelo TRE, que entende que você não soube votar e simplesmente anula sua participação.
A democracia nunca funcionou no Brasil. A tal Justiça Eleitoral é guardiã feroz do voto obrigatório. Tem juiz que sonha com uma lei tornando crime hediondo a ausência do eleitor nas urnas. Político nem se fala. Estamos perdendo nossa capacidade de reagir a essa canalhice toda. Pelo menos no tempo da cédula de papel a gente podia exercer o direito de frescar com essa turma. É como diz Ivaldo: votar é consagrar o círculo do vício. O melhor candidato não pode se candidatar porque não tem grana, não pode entrar no partido que tem dono e não tem lobby da imprensa.
Ao contrário de algumas informações que rolam na internet, não importa o número de votos nulos que alcançar a eleição, isso não fará com que uma nova seja convocada e que a troca dos candidatos se realize. A lei eleitoral só fala em anular uma eleição quando existe alguma irregularidade no tal do pleito, alguma suspeita de corrupção. Como nunca irregularidade alguma é provada, que esse povo é profissional, sem chance de anular qualquer eleição.
E o que é pior: quem vota nulo ajuda a diminuir o quociente eleitoral. Assim, se um candidato bandido precisa de 100 mil votos pra se eleger, com 50 mil ele consegue. Por isso minha decisão: não vou comparecer à sessão eleitoral. Pago 3 reais de multa e com o troco tomo duas bicadas de conhaque de alcatrão em louvor a Cacareco.
Minha campanha é: não saia de casa no dia da eleição.
Quero de volta minha cédula de papel!
Caro escriba leonino,
ResponderExcluirEsse post me fez lembrar um tempo bom aqui no Geisel, lá pros finais dos 80's, quando eu e Zuma nos vestíamos de palhaços, ou de burguês e operário, um arrastando ou outro com corrente no pescoço, para votar na mesma Zona Eleitoral do colégio estadual, vizinho à casa de Tia Neves. Era sempre um prostesto bem-humorado contra a obrigatoriedade do voto. Numa ocasião fomos até alvo de matéria televisiva feita pelo colega Gilson Renato (na TV Tambaú, àquela época). Era um dia festivo, regado a cerveja gelada o resto do dia (nas intucas) na casa do velho Freitas. Naquele tempo compúnhamos o Coletivo Anarquista de João Pessoa (CAJP)que durou 93/94, uma agremiação cheia de anarcopunks e revoltados de vários matizes. A diversão da galera era limpar o cu com a cédula de papel ou meter cola prá estragar as outras que já estavam na urna... Pense numa vingança! kkkk