sábado, 17 de julho de 2010


Em 1958, um rinoceronte virou celebridade em São Paulo. “Cacareco”, o nome da fera, fez-se rei do zoológico, saindo até em coluna social. Virou celebridade. Na eleição daquele ano, “Cacareco” foi eleito vereador com mais de 100 mil votos, o candidato mais votado. No jornal Última Hora, Stanislaw Ponte Preta comentou que "diversos membros da cúpula do PSP andaram rondando a jaula de Cacareco, para o colocarem no lugar de Adhemar de Barros".

Saudades do tempo em que o eleitor podia se vingar da canalhice política votando em rinoceronte, bode, “Amigo da Onça”, veado, ou nele mesmo. Era o tempo da cédula de papel.

Hoje meu compadre Ivaldo Gomes quer dar seu voto de protesto e o máximo que pode conseguir é seu voto ser considerado um erro pelo TRE, que entende que você não soube votar e simplesmente anula sua participação.

A democracia nunca funcionou no Brasil. A tal Justiça Eleitoral é guardiã feroz do voto obrigatório. Tem juiz que sonha com uma lei tornando crime hediondo a ausência do eleitor nas urnas. Político nem se fala. Estamos perdendo nossa capacidade de reagir a essa canalhice toda. Pelo menos no tempo da cédula de papel a gente podia exercer o direito de frescar com essa turma. É como diz Ivaldo: votar é consagrar o círculo do vício. O melhor candidato não pode se candidatar porque não tem grana, não pode entrar no partido que tem dono e não tem lobby da imprensa.

Ao contrário de algumas informações que rolam na internet, não importa o número de votos nulos que alcançar a eleição, isso não fará com que uma nova seja convocada e que a troca dos candidatos se realize. A lei eleitoral só fala em anular uma eleição quando existe alguma irregularidade no tal do pleito, alguma suspeita de corrupção. Como nunca irregularidade alguma é provada, que esse povo é profissional, sem chance de anular qualquer eleição.

E o que é pior: quem vota nulo ajuda a diminuir o quociente eleitoral. Assim, se um candidato bandido precisa de 100 mil votos pra se eleger, com 50 mil ele consegue. Por isso minha decisão: não vou comparecer à sessão eleitoral. Pago 3 reais de multa e com o troco tomo duas bicadas de conhaque de alcatrão em louvor a Cacareco.

Minha campanha é: não saia de casa no dia da eleição.

Quero de volta minha cédula de papel!

Um comentário:

  1. Caro escriba leonino,

    Esse post me fez lembrar um tempo bom aqui no Geisel, lá pros finais dos 80's, quando eu e Zuma nos vestíamos de palhaços, ou de burguês e operário, um arrastando ou outro com corrente no pescoço, para votar na mesma Zona Eleitoral do colégio estadual, vizinho à casa de Tia Neves. Era sempre um prostesto bem-humorado contra a obrigatoriedade do voto. Numa ocasião fomos até alvo de matéria televisiva feita pelo colega Gilson Renato (na TV Tambaú, àquela época). Era um dia festivo, regado a cerveja gelada o resto do dia (nas intucas) na casa do velho Freitas. Naquele tempo compúnhamos o Coletivo Anarquista de João Pessoa (CAJP)que durou 93/94, uma agremiação cheia de anarcopunks e revoltados de vários matizes. A diversão da galera era limpar o cu com a cédula de papel ou meter cola prá estragar as outras que já estavam na urna... Pense numa vingança! kkkk

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