quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Não existem vidas comuns
Encontrei o Professor Benjamim, um dos meus raros leitores, no Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, em Itabaiana. Ele veio entregar cerca de 200 livros da Universidade Estadual da Paraíba para a biblioteca comunitária Arnaud Costa que acabamos de inaugurar. O mestre perguntou de chofre:
– Por que você fala tanto em Itabaiana e Mari, e pouco menciona Timbaúba, sua terra natal?
Pergunta pouco desafiadora, posto que fácil de responder. É que saí de Timbaúba com apenas 8 anos de idade. Morei 25 anos em Itabaiana, onde vi, ouvi e vivi tudo o que foi interessante para minha formação, nada de excepcional ou extraordinário, um passado “pouco recomendável” perante a sociedade. Mas é como disse o pensador: aquilo que vem ao mundo para nada perturbar não merece nem contemplações nem paciência. Foi com esse pensamento que meu professor Zenito Oliveira procurou me conhecer, quando chegou a Itabaiana com sua Irene Marinheiro.
– Quem é aquele barbudo?
– Um comunista metido a boêmio, frequentador de puteiro.
– Pois é com esse povo que eu gosto de conviver – disse o mestre Zenito.
Dito e feito. Ficamos amigos, gostei de sua franqueza, ele admirou minhas ideias meio confusas na política e nas artes, e assim formamos uma patota. A imagem mais remota que guardo de Zenito foi quando, por obra e desgraça dos lambe-botas da ditadura e meia dúzia de falsos moralistas, nosso professor e amigo Idalmo foi expulso do Colégio Estadual. Zena foi um dos poucos colegas de profissão a ficar ao lado do nosso “senador”, um ato de muita coragem naqueles tempos safados.
Mas estou eu tergiversando. Quero falar mesmo é de Timbaúba, nas remotas eras de minha infância. Foi na Princesinha da Serra onde nasci na Rua do Sapo. Depois fomos morar no bairro Timbaubinha, numa casa de esquina em frente a uma praça que ainda hoje está lá. Foi onde bateram essa “chapa”. O quinto menino da direita sou eu aos oito anos. Ao meu lado, meu primo Josué de camisa listrada, o cara que construiu uma máquina de projetar filme, um encantamento para meus olhos de garoto pobre. Era uma caixa de sapato com lâmpada vazada e cheia d’água. O filme, pedaços de fita que arrumavam no cinema Alvorada. Nunca esqueci aquele projetor. Essa imagem fantástica ainda hoje está viva na minha emoção. Minha aspiração intensa passou a ser construir um daqueles aparelhos encantados.
Daquele grupo de pessoas, só minha mãe está comigo. Os demais, não sei onde o destino os levou. Sei que minha tia Judite, ao fundo, ao lado de mãe com o garoto, faleceu. Esse garoto é meu irmão Nôca. Fico refletindo: onde estarão essas pessoas hoje? O que foi feito de suas vidas? Não existe vida comum. Cada uma esconde um milagre. Sabe o que faria se tivesse grana? Investiria numa busca insistente para recuperar a história individual de cada figura dessa foto antiga.
Amanhã falarei de um cara excepcional que conheci em Itabaiana. Não percam esse eletrizante capítulo da novela “Não existem vidas comuns”.
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