quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Celebridades medíocres


Dr.Bosco Christiano Maciel

Os jornais, revistas, rádios e TV promovem pessoas que nada fizeram de relevante na vida em nenhum ramo de atividade. De repente, um zé mané ou uma maria fuleira qualquer aparece no Big Brother e ganha projeção nacional. A mídia pegou, por exemplo, a Xuxa, uma modelo que não sabia cantar, dançar ou interpretar, e alçou a galega aos píncaros do sucesso. São as chamadas celebridades descartáveis, se bem que no caso da Xuxa a coisa rendeu e ainda rende muita grana. Ela acabou por se estabelecer no show business televisivo, onde políticos carreiristas, socialites (emergentes ou veteranas), dançarinas de rebolado, atores canastrões (globais ou não), pagodeiros que mal sabem falar, autoridades ansiosas por promoção, e outros zeros à esquerda reinam sem qualquer mérito. Suas imagens são veneradas pelo populacho inconsciente, até serem descartadas pela própria mídia manipuladora de corações e mentes suburbanos.

Uma teoria no mínimo controvertida tenta explicar o fenômeno com a hipótese de que não temos gente de mérito para focalizar. Não existem bons escritores, cientistas de grande valor, ótimos artistas e pensadores no Brasil que mereçam destaque, por isso a mídia se vira com a mediocridade mais à mão, ocupando-se em focar tipos de segunda, terceira ou nenhuma categoria, como esse povo do Big Bosta. Não concordo com essa opinião. Acho que temos pessoas de alto nível em todos os setores. O Brasil exporta tecnologia de ponta em várias esferas de atividades, e nossa cultura é, pela diversidade e esplendor, uma das mais ricas do mundo.

Em minha opinião, o que ocorre é que a manipulação da mídia, visando interesses puramente com o único objetivo de gerar lucros, torna as pessoas alienadas, vivendo sem compreender os fatores sociais, políticos e culturais que os condicionam, bitolados por um processo de lavagem cerebral que os tornam idiotas, sem nenhum discernimento para ver um palmo adiante do nariz. Essa é que é a grande tragédia.

Vejam a cidade de Itabaiana, na Paraíba do Norte. Lugarejo pequeno de um dos Estados mais pobres do Brasil, mas se você for ver direitinho, temos grandes homens que merecem se tornar conhecidos e respeitados, por seu trabalho e importância. Não vou listar os nossos artistas e homens cultos que aqui nasceram, mas a série é grande e preciosa. Hoje foco apenas em um nome itabaianense, um cientista que granjeou fama e prestígio internacional pelo seu trabalho no campo da ciência, o nosso Bosco Christiano Maciel da Silva, um dos especialistas mais respeitados na área de microbiologia, micologia e imunopatologia do mundo. Ele fez especialização no Instituto Pasteur de Paris, tornando-se referência no estudo da Aids e outras doenças. Escreveu mais de 30 trabalhos publicados na imprensa especializada internacional e em anais de congressos. Atualmente, ministra aulas em cursos de graduação e pós-graduação na Universidade de São Paulo.

Bosco Christiano Maciel é filho da professora Maria Helena Maciel, outra itabaianense que se destaca como educadora na Universidade Federal da Paraíba. Então, não é por falta de valores que não se promove quem tem realmente qualidades excepcionais. Adeildo Vieira é um dos maiores compositores da Paraíba, nosso conterrâneo. Ninguém escuta a música de Adeildo nas rádios daqui. Otto Cavalcanti é um pintor reconhecido em toda a Europa, mas Itabaiana, que é sua terra natal, não o conhece. Assim temos muitos exemplos que invalidam a teoria de que não existem valores para mostrar e dar destaque.

Essa postura de desinteresse e desconhecimento provoca suspiros de consternação no pequeno grupo que sabe o porquê da degradação do que temos de mais rico. Os efeitos de tal processo iníquio: a perda da autoestima e o empobrecimento cultural. O que ainda salva é a mobilização da sociedade civil, com as organizações não governamentais, a exemplo do Ponto de Cultura Cantiga de Ninar, interessado em manter a salvo nosso patrimônio cultural e valores imateriais, cumprindo o dever que órgãos públicos responsáveis não cumprem.

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