domingo, 6 de setembro de 2009

Perdendo o trem da História


Esta expressão me veio após leitura do livro “A agridoce vida”, do itabaianense Cláudio José Lopes Rodrigues. Na obra, ele discorre sobre a história de sua família, que teve origem em Itabaiana. Rodrigues, que é professor aposentado da Universidade Federal da Paraíba, cita nomes de antigos moradores de Itabaiana, terra natal de sua mãe, Maria José Rodrigues Lopes, Zeínha. Pessoas que devem ser conhecidas do meu compadre Geraldo Aguiar e de outras pessoas mais próximas desses antepassados. Outro escritor itabaianense, Reginaldo Alves de Araújo, certamente conheceu muitas dessas figuras citadas na obra de Cláudio, ele que também é um memorialista de sua terra natal.

No capítulo em que narra o começo do romance do seu pai com Zeínha, Cláudio destaca a genealogia de sua genitora, que ficou órfã em 1924 com os irmãos Sebastiana (Niná), Francisco, Adauto, Natália e Liquinha. Moravam em Campo Grande, distrito de Itabaiana. Com a morte dos pais, Chico e Adauto assumiram a tarefa de manter a família, à frente de uma tropa de burros, botando água de aluguel. Como auxiliares, os dois irmãos contrataram Severino Fumaça e seu filho, Artur Fumaça, que depois veio a se revelar como o maior violonista da terra de Sivuca. Maria Fumaça, irmã de Artur, trabalhava como doméstica na casa dos órfãos. A receita da família era complementada por Niná, que trabalhava como costureira.

Niná era freqüentadora da Igreja, onde fez amizade com dona Vina, mulher de Luiz Ribeiro Coutinho, comerciante de algodão e pessoa influente na época. Por conta dessa amizade, três dos irmãos foram internados no Instituto São José, no Recife. Zeínha foi morar nesse educandário, onde ficou mais de um ano. Com saudades de Itabaiana, voltou e foi estudar no Colégio São José, da famosa professora Marieta Medeiros, que era sua madrinha de crisma. Moraram na Rua da Boca da Mata, próximo ao coreto, depois na rua Djalma Dutra, no Alto dos Currais. Depois, foram morar do outro lado da ponte, no “Alto de seu Elias”.

Natália casou-se com Jaime Quirino Costa, de uma família bem situada na cidade, mas adepto de uma farra, sujeito irresponsável que gostava de um carteado e de noitadas no cabaré. Diz o autor que ele era tão desregrado que a sua mãe, a viúva dona Josina, muitas vezes tinha que entrar nos cabarés para “arrancar o filho do meio das putas”. O casal teve duas filhas, Nailde e Natilde.

Outra figura que merece destaque entre os personagens itabaianenses do livro de Cláudio José Lopes, chamava-se Clecinha. Morava em Campo Grande, era solteirona, gostava de tocar bandolim, figura de destaque na sociedade de então.

Muitos anos depois, o autor do livro voltou a Itabaiana com sua mãe, para rever os cenários onde ela passou sua infância e mocidade. Era uma visita à sua remota juventude. Semelhante ao enredo de um conto magistral de Aníbal Machado, “Volta aos seios de Duília”, falando de um homem que resolveu retornar, depois de velho, à sua cidade natal para rever Duília, seu amor do passado, a desilusão e o desapontamento foram intensos. Nada mais havia que lembrasse a velha Itabaiana dos anos 40/50.

Encontraram um velho conhecido de Campo Grande. “Itabaiana melhorou?”, perguntaram. Que nada - disse o homem – ficou pior; até o trem de passageiros, que era a porta de entrada de Pernambuco na Paraíba, não existe mais.

(A Agridoce Vida – Cláudio José Lopes Rodrigues – João Pessoa – 2009 – Editora Idéia)

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