quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Manoel Pedro, o locutor do povão


Manoel Pedro é um sujeito dividido em três partes: alma artística, tronco de guerreiro e cabeça de locutor, com sua devida voz de barítono. A alma é a mais sensorial de todas, onde a faculdade de sentir compaixão do próximo o leva a assumir missões para elevar o bem-estar do seu povo. Militante político de esquerda, voluntário nas pastorais sociais da Igreja Católica e agora batalhador pelos direitos das crianças e adolescentes, na função de conselheiro tutelar.

Manoel Pedro foi meu companheiro em aventuras artísticas, políticas e etílicas. Contei com sua cumplicidade nas tarefas de organização do PT, do teatro amador, da rádio comunitária e tantas outras construções e desconstruções na sua Mari. Um caboclo calmo, de voz mansa, grande biriteiro.

Muitas as derrotas e decepções daquele nosso grupo de amigos. Mas a gente sempre sobrevivia, devidamente recuperados por umas meiotas no bar de Nelson, com tira-gosto de traíra. Manoel Pedro foi ator na peça “Mari, Araçá e outras árvores do Paraíso”. A estréia foi uma grande vitória, lembrada também como a noite em que a tia de Manoel Pedro não morreu. Explico: tudo pronto para o início da apresentação, todo mundo nervoso, e nada de chegar o Manoel. Com uma hora de atraso, aparece o cara quase chorando, justificando a impontualidade pelo falecimento de sua estimada tiazinha. Todo mundo triste, quase suspensa a apresentação, mas Manoel foi firme: “vai ter a estréia, porque o espetáculo não pode parar”. Depois se soube que a tia de Manoel Pedro não havia morrido, era tudo onda do negão para dar cabimento à demora. Parou no bar para calibrar os nervos.

Soube que Manoel Pedro foi expulso da rádio comunitária que ajudou a fundar. Honestamente, não sei se a tal rádio merece o locutor do povão, como dizia Chico Tadeu, nosso amigo comum. O silêncio de um cara como Manoel Pedro é talvez um grito contra o autoritarismo. Mas isso é outra história.

Na foto, da esquerda para a direita: Nado Mago, eu de bigode e o nosso Manoel Pedro velho de guerra.

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