sexta-feira, 11 de setembro de 2009
PC do Boi
Sentença de Maninho no bar de Zé: “há coisas que só se vê em Jaguaribe”. Tenho que concordar com meu compadre, sobretudo depois de ter lido “Bandeiras vermelhas – A presença dos comunistas na Paraíba”, de autoria de Waldir Porfírio. Por esta obra, fiquei sabendo que, nos primeiros anos da década de 30, o Partido Comunista do Brasil instalou uma célula, que era a forma de organização de base, no bucólico bairro de Jaguaribe. Desta célula comunista participavam João Ricardo como Secretário Político, Neves como Secretário Sindical e Severino Diogo no cargo de Secretário de Organização, uma espécie de tesoureiro, cobrador da contribuição dos “sócios”. Pois a base comunista de Jaguaribe chamava-se “Célula São José”, talvez a única célula deste partido no mundo com nome de santo. Como se sabe, a filosofia comunista não revela muita deferência com crenças religiosas.
O grande comunista do bairro atendia por João Batista Barbosa, um militante vermelho de atuação destacada nos primeiros anos de formação do partido em João Pessoa. Com sacrifício próprio de um tempo onde o preconceito e a desinformação eram muitíssimo maiores, o pequeno grupo de comunistas de Jaguaribe se reunia a partir das 10 horas da noite, “adentrando na madrugada”. Faziam pichações em muros, contatavam lideranças sindicais do bairro, colocavam bandeiras do PCB nos postes de iluminação e fugiam da polícia.
O Partido Comunista do Brasil, nos seus primórdios, atraiu a elite jovem e pensante na capital paraibana. Destacando o cineasta Wladimir Carvalho, o teatrólogo Paulo Pontes, Breno Mattos, Durval Leal, Bento da Gama, João Manoel de Carvalho e Severino dos Ramos Soares, o Prezado, além do teatrólogo Raimundo Nonato Batista, que criou o Teatro Popular de Arte em agosto de 1957, levando peças teatrais de conteúdo político para a juventude.
Atualmente, o Partido Comunista do Brasil ainda tem sede em Jaguaribe. Atendendo ao centralismo etílico, a sede fica vizinha ao bar de dona Chiquitita, na Rua Alberto de Brito. Lá militam com galhardia e fé meu compadre Mandela, o poeta Ybervile e tantos outros vermelhos modernos. Já não apanham da polícia nem saem de madrugada pichando muros. O Secretário Geral é um delegado de polícia aposentado. A única tarefa de massa no partido, segundo me confidenciou Silvio Lixo, um militante para assuntos carnavalescos, é a saída da troça “Boi Vermelho”, reunindo os combatentes comunistas e outros galhofeiros da vizinhança durante as prévias do carnaval. Sílvio só tem uma ressalva quanto à alegoria: o boi vermelho parece uma centopéia, tem mais de 10 metros de comprimento e debaixo do touro esquerdista brincam muitas pessoas. “Descaracteriza a brincadeira popular”, reclama Sílvio.
O Partido Comunista do Brasil hoje é a favor. Acomodaram-se à ordem capitalista. “Os comunistas locais não passam de retardados vendidos”, ataca um comunista de carteirinha, desiludido. Eu não diria tanto. Mas acho que o boi vermelho, além de muito longo, ficou pesadão, ganhou peso e se acomodou.
Só pra lembrar, sem muito a ver: ano passado tomei uma garrafa de Marimbondo para comemorar os 100 anos de Cartola. Ele foi uma prova viva de que a classe trabalhadora pode superar o embrutecimento e a alienação que a burguesia tenta nos impor. Com arte e sensibilidade.
"... Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó..."
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