sábado, 12 de setembro de 2009

NÃO ME RENDO AO INIMIGO


No livro “A Rosa do Povo”, Carlos Drummond de Andrade dá o conselho: “Não grites, não suspires, não te mates: escreve. Escreve romances, relatórios, cartas de suicídio, exposições de motivos, mas escreve. Não te rendas ao inimigo”.

De fato, não tem porque render-se. O inimigo está à espreita e tem muitos nomes: apatia, desânimo, depressão, aposentadoria, doenças físicas, crise econômica, baixa autoestima, diminuição da libido e outros demônios interiores.

Nos antigamentes, eu fazia uma poesia de barricada. Escrevia poemas como disse o poeta pernambucano Marcos Accyoly: “Faço versos como quem mata. A poesia é minha legítima ofensa. Eu escrevo para não morrer”. Meu dileto amigo professor Edmilson Trindade, de Mari, afirmou que minha poesia estava cheia de pessimismo e desolação, mas com rasgos de vida e esperança.

Hoje só faço poesia de cordel e escrevo essas croniquetas aqui na Toca do Leão. Meu compadre e confrade Dalmo Oliveira disse que eu escrevo muito. No sentido de quantidade, não de qualidade. Mas nem é tanto assim. Acordo às 4 da matina, redijo alguma coisa e só. No resto do dia, só leio. Não vejo nada de degradante o sujeito escrever suas besteiras, que ninguém é obrigado a ler. Antes que eu me transforme em uma melancólica sombra de mim mesmo, vou escrever sobre meu povo, sua cultura, sua história e seus heróis, coisas que despertam meu interesse, até fatos desinteressantes como uma conversa fiada na mesa do bar de Zé, que blog é pra isso mesmo, jogar conversa fora. Falar até das coisas desimportantes, “crônica das coisas mínimas e desnecessárias”, como afirma o cearense/pernambucano Samarone Lima.

Mas o que importa é escrever. No momento, dedico-me à redação de um cordel sobre Biu de Pacatuba, um pequeno proprietário rural de Sapé que foi o primeiro presidente das Ligas Camponesas. Junto com Nego Fuba, João Pedro Teixeira e Pedro Fazendeiro, enfrentou o latifúndio, combatendo suas atrocidades e o aparelho repressivo do Estado. É um herói do povo de quem poucos já ouviram falar.

Breve história: quando fundei o sindicato dos ferroviários da Paraíba, a empresa me jogou em um sítio isolado perto de Sapé chamado Entroncamento, para enfraquecer o movimento de organização dessa classe de trabalhadores. Naqueles ermos, pensei que iria escrever bastante. Tempo livre e tranquilidade não faltavam. Só que lá encontrei uma patota de caneiros e quase virei alcoólatra. Na foto, eu à direita com a rapaziada do bar de Garcia “Sapo Bêbado”.

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