domingo, 20 de setembro de 2009

Fábio Mozart e o cordel das Ligas Camponesas


A poesia popular nordestina, publicada em folhetos e chamada de literatura de cordel é uma das manifestações mais autênticas e pujantes da nossa cultura popular. Conta histórias, relata costumes e práticas, informa eventos e acontecidos, faz rir e gargalhar, mas também faz pensar e refletir por emanar diretamente da alma do povo, sendo para esse mesmo povo construída e pensada.
É nessa última acepção que se enquadra o folheto de Fábio Mozart "Biu de Pacatuba - Um herói do nosso tempo", que recupera para o conhecimento do público a biografia de Severino Alves Barbosa, o Biu de Pacatuba, um dos fundadores das Ligas Camponesas na Paraíba.

Em sextilhas habilmente construídas, com métrica e rima apuradas, Fábio Mozart nos conta a história de Biu de Pacatuba, herói popular, agricultor que briga com os poderosos donos de latifúndios na região de Sapé-PB; seu trabalho ombro a ombro com o também herói João Pedro Teixeira, seu companheiro de lutas, e o papel que representou na conscientização daquela população submetida a tantos anos seguidos de exploração.

Ao longo das estrofes, o leitor vai conhecendo a saga de Biu de Pacatuba: a prisão, os sofrimentos e humilhações, a perda dos bens, a pobreza, a impossibilidade de se reerguer economicamente pela pecha de "comunista", que dele afastava os financiamentos e ajudas oficiais. O autor nos faz acompanhar a história desse homem e a sua inquebrantável coragem: vendo que não podia voltar a trabalhar na agricultura, como gostava, investiu o resto dos seus bens na educação dos filhos, provando mais uma vez que tinha visão de futuro e sabia o que era mais certo.
Ao mesmo tempo em que narra a história, o autor esclarece: “O sistema só tolera/ Dois tipos de componentes:/ Os tiranos que exploram/ E os subservientes./ Os que lutam por justiça/ Serão sempre dissidentes.”

Biu de Pacatuba faleceu em 1975 e em boa hora Fábio Mozart faz esse registro biográfico para que a saga de nossos heróis não caia no esquecimento, alimentando com sua poesia, no peito dos verdadeiros brasileiros, a chama da Liberdade.

Clotilde Tavares

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