quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um diálogo impossível


Desisti de tentar ser cortês e amigo do meu compadre Maciel Caju. Seremos de hoje por diante apenas conhecidos. Estamos sempre em desacordo, e o homem agora deu para me humilhar por qualquer motivo. Acho que é inveja, não sei de que, mas desconfio. Ódio e desgosto por ver meu livro “Biu Pacatuba” ser publicado por uma editora de verdade, e não aquelas edições dos seus livrinhos chinfrins que ele manda rodar em tipografias de pouca qualidade e baixo custo. Imaginem meus três leitores (ele confessa que não perde tempo lendo meu blog) que o inconveniente Caju recebeu em primeira mão os originais do meu livro sobre a cidade de Mari, e simplesmente se recusou a prefaciar a obra. Comentário do maldoso poeta menor:

── Seu livro é bom e original, mas a parte que é boa não é original e a parte que é original não é boa.

Digam-me: posso ser benevolente com um sujeito desses? Na falta de quem trate com carinho meu novo livro, eu mesmo serei crítico da obra. Trata-se de uma história contra a exclusão, o apagamento. Refiro-me a Biu Pacatuba, o primeiro Presidente das Ligas Camponesas de Mari, um herói do povo paraibano. Ele teve a mesma importância de João Pedro Teixeira nas lutas campesinas das décadas 60/70 na várzea do rio Paraíba, brigando contra poderosas forças do latifúndio mancomunadas com o Estado armado. No entanto, hoje seu nome não é lembrado. Agora mesmo estão celebrando 48 anos da morte de João Pedro Teixeira através de uma entidade de Sapé chamada Memorial das Ligas Camponesas. Entretanto, de Biu Pacatuba pouco ou nada se fala. É no sentido deste resgate histórico que escrevi o livro, menosprezado pelo ácido Maciel Caju.

Escrevi o livreto não com intenção de protestar contra esse fato, mas só para botar diante das novas gerações personagens que de algum modo concorreram para que os trabalhadores fossem mais respeitados e, para isso, dispuseram de suas próprias vidas e dos seus familiares.

No livrinho, conto histórias de figuras que conviveram comigo em Mari, nos doze anos em que passei naquela aprazível cidade paraibana. Na noite de autógrafos, vou convidar os prefeitos de Mari e Sapé, Elizabeth Teixeira, esposa de João Pedro Teixeira, padre Hermínio Cânova, Frei Anastácio e o Chefe do Gabinete do Presidente da República, Paulo Roberto Martins. Esse povo todo faz parte da lista de convidados para o aniversário da morte de João Pedro Teixeira. Se ninguém dessa lista de pessoas importantes aparecer, sei que contarei com meus companheiros do Assentamento Padre Gino, Assentamento Tiradentes e outros da região, além da corriola comandada por Beba do Violão, Mané do Bar, Zezim Kalai, Caveirinha, Zé Hermínio violeiro, Heleno Boca de Rosa e outros artistas cachacistas menos votados.

Conforme mensagem recebida, fico sabendo que a “ONG Memorial das Ligas Camponesas é uma entidade sem fins lucrativos que tem dentre seus objetivos a preservação, disseminação e recuperação da história das Ligas Camponesas na região de Sapé, formando assim um amplo acervo de informações, evidências, objetos, fotos, documentos e tudo o que for relevante para que tão importante fato histórico não seja esquecido.” Espero que recebam o livro “Biu Pacatuba” para fazer parte desse acervo, se antes não forem envenenados pelas críticas ferozes do meu ex-amigo Maciel Caju, um trivial poeta que se acha gênio e adora espinafrar o trabalho dos outros.

FOTO: João Pedro Teixeira e família

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