sábado, 3 de abril de 2010
Judas é preso pela Polícia Militar de Mari
Eram cinco em ponto da tarde, como no poema de Lorca. A ralé se divertia, malhando o Judas da Sexta-feira Santa, quando a polícia chegou, como num conto surreal de Gabriel Garcia Marques, e... levou o Judas preso.
O Judas estava amarrado no alto de um poste, com uma placa no pescoço onde se lia o nome do prefeito do lugar. O soldado subiu no poste e derrubou o Judas, que foi levado para a delegacia na mala da viatura. Em meio ao populacho, muitos vaiavam a polícia, outros gritavam e assobiavam desprezando o Judas, a maioria demonstrava seu desagrado ao prefeito.
Na delegacia, o delegado não estava presente mas deixou seu substituto, o zelador do prédio, um detento de bom comportamento que fazia as vezes de escrivão, carcereiro e responsável pela ordem geral no distrito. Com a autoridade que era possuidor no momento, depois de comprovada a ação em flagrante delito, o rapaz mandou trancafiar o Judas na única cela da delegacia, onde dormia um bebinho avinhado.
A prisão do Judas foi anunciada em primeira mão pela rádio comunitária, inimiga do prefeito e, portanto, amiga do apóstolo encarcerado. O radialista esclareceu que a prisão foi ilegal, já que o Judas teve tolhida sua liberdade de expressão. Um jornalista local apressou-se em repudiar a malhação do Judas, considerada uma “brincadeira maldosa onde se avacalhava seres humanos, principalmente sendo o prefeito alvo das chacotas, verdadeira falta de respeito, uma baixeza, uma humilhação a um homem sério e íntegro”.
A turma da oposição postou-se na frente da delegacia pedindo a soltura imediata do Judas. Um advogado de porta de cadeia, encontrando-se no seu local de trabalho, a porta da cadeia, apressou-se em redigir hábeas corpus para o Judas, vazado nos seguintes termos: “Judas Iscariotes, nascido na Judeia, de profissão ignorada, talvez o cidadão mais injustiçado da história da humanidade desde quando seguia uma turma que prestava culto a Jesus, já que sempre era citado por último na relação dos 12 apóstolos. Esse homem sempre é mencionado como pessoa egoísta e avarenta, sujeito de má índole. Na verdade, Judas Iscariotes foi um patriota, idealista pela liberdade do seu povo oprimido sob o jugo dos romanos. Foi um libertário, afirmador da identidade de sua gente, revolucionário que desprezou sua própria segurança em razão da luta contra a opressão. E agora, ainda mais essa injustiça de prender o homem por ter supostamente traído Yeshua e oferecer circunstância oportuna para o povaréu atribuir ao prefeito de um lugarzinho perdido no mapa a acusação de corrupto, analfabeto e que se submete ao controle de outros desonestos”. A petição não obteve deferimento.
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