domingo, 27 de dezembro de 2009

Minha galega dos olhos azuis


Não mandei o buquê de flores tradicional nem qualquer outro presente no dia 27 de dezembro, aniversário de minha mãe. Nunca escrevi uma carta para minha mãe, nem ao menos dei um abraço no dia do aniversário. Seja como for, ela sabe o tamanho do afeto de cada filho, porque mãe tem essas coisas de pressentir as emoções das crias. Suponho que seja uma tática de milhões de anos no jogo perigoso da preservação da espécie.

Dona Iraci provavelmente não vai ler essa carta aberta porque não manja de computadores. Nunca tocou em um teclado de PC. Foi mestra rudimentar, como se designava antigamente, professora primária nas escolas de alto nível que existiam em Itabaiana, de onde saíram crânios iguais a Zé Lins do Rego e Abelardo Jurema. Minha mãe foi aluna do legendário professor Maciel, um paraplégico cuja escola marcou época na educação daqueles tempos na Paraíba.

No primário, minha professora pediu que escrevêssemos uma carta para um herói ou uma pessoa que admirássemos. Talvez secretamente gostaria de receber uma cartinha de um aluno bajulador. Escrevi uma carta para minha galega dos olhos azuis, mas essa não conta porque não cheguei a entregar a correspondência.

Lamento não ter entregado a carta. Achei que estava sendo meio ridículo. Os babacas colegas diziam que quem demonstrasse afeto pela mãe era boiola. Adolescente que anda com pai ou mãe é ainda hoje estigmatizado. Eu tinha apenas doze anos. Na verdade, acho que minha mãe tem uma personalidade muito prática. Ela sabe das coisas, que a gente nem imagina. Mesmo um filho não consegue jamais agradecer à sua mãe o suficiente. Ela sempre vai entender o que a gente quer dizer, e o que não quer também.

Nunca fui chamado de filhinho da mamãe, mas sei que não há nada de errado em ser um filhinho da mamãe. Mãe: obrigado por ser minha mãe e obrigado por ser bonita.

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