sábado, 10 de outubro de 2009

Jornal de estudante



Fernando Melo sendo entrevistado por Marcos Veloso, em 2000.



Entrei no Colégio Estadual de Itabaiana por via do concurso de admissão. Naquela época, o tal concurso correspondia a um verdadeiro vestibular, dando acesso ao curso médio. Um tempo em que as pessoas liam, estudavam. Ainda quase menino, por exemplo, meu compadre Geraldo Xavier foi ser alfabetizador de adultos na Cruzada ABC que antecedeu o Mobral. Formou uma escolinha e batizou-a de Zé da Luz.

Geraldo Xavier foi redator de um jornal escolar no antigo Ginásio Estadual de Itabaiana. A equipe contava ainda com Fernando Almeida, filho do ex-prefeito Alceu, e Mércia, sobrinha do mestre Sivuca. Após três números, “O Estudante” parou de circular.

Eu também fiz parte de experiências jornalísticas naquela escola. Publicávamos um jornal chamado “O Gaiato”, com a seguinte equipe: Biu Bicudinho, distribuidor; Pedro Lourenço, repórter; eu redator e Djanete Menezes na linha de frente da segurança. Isto porque Djanete já demonstrava seu talento para as artes marciais, forte como uma heroína de estórias em quadrinho, valente e destemida. Era nossa fortaleza para desestimular os que se sentiam ofendidos pelas gaiatices do jornal a apelar para o desforço pessoal.

O jornal rodava-se no mimeógrafo do Colégio, na época dirigido por Fernando Melo. Nosso diretor foi líder estudantil no mesmo colégio, mostrando-se sempre condescendente com as aventuras jornalísticas do pessoal de “O Gaiato”. Para evitar maiores críticas à direção, Fernando gostava de agradar aos “jornalistas”. Abriu conta na barraca de Zequinha para a equipe tomar suas cachacinhas nas horas vagas. Eu, Djanete e Pedro Lourenço tomamos tanto uísque na conta de Fernando que acabamos perdendo o crédito.

─ Pode meter o pau, mas bebida não pago mais! – decidiu Fernando.

Isso foi antes da redemocratização do País, quando a repressão ainda era intensa. A verdade seja dita sobre Fernando Melo: sempre foi um democrata. Segurou a barra de muito estudante denunciado por supostos atos de subversão. Diferente do Dr. Almeida, misto de diretor e promotor público que vivia fazendo relatórios de alunos acusados de “indisciplina”, “desobediência” e “má conduta”. Escolhia alguns para punir de forma exemplar. Muitos foram jogados às feras da ditadura, a exemplo de Lenildo Correia.

Depois, Fernando Melo elegeu-se deputado estadual, Biu Bicudinho morreu, Djanete virou campeã de judô, Pedro Lourenço continuou a carreira de pinguço e eu nem terminei o ensino médio, porque fui trabalhar na estrada de ferro para dar de comer aos filhos nascidos antes do tempo apropriado. É a vida...

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