quarta-feira, 28 de outubro de 2009

BIU PACATUBA, UM HERÓI DO NOSSO TEMPO



“...o que eles queriam não era dar roçado a ninguém, eles queriam era matar o povo e debandar o povo.” (Francisco Antonio da Silva, membro das Ligas Camponesas de Sapé)


“A ordem era esmagar. Correu todo mundo”. (Ivan Figueiredo)


“O que eu me lembro era que o povo vivia tudo assombrado com essa história de Liga Camponesa”. (Elizabeth Teixeira)


“Fui trabalhar de vigia na Usina Santana. A ordem era pra atirar no pessoal das Ligas. De repente aparece meu tio Mané, que derrubaram a casa dele em Cajá. Eu disse: ‘meu Deus, o que é que eu faço com meu tio Mané?’” - (Severino Tertuliano Nascimento)


“O povo sempre acreditava que o sangue que tinha sido derramado, ele não ia ficar enterrado, ele ia nascer de novo”. (Josefa Maria da Silva).


“A Liga Camponesa foi quem me ensinou a lutar. Porque o trabalhador não tinha direito nenhum na vida.” (Damião Cardoso)


Do livro “Memórias do povo”, organizado por Irmã Tonny, Alder Júlio, Arivaldo Sezyshta, Gabriele Giacomelli e Gláucia Luna.


Quando o feroz latifúndio
Matou João Pedro Teixeira
O grande Raimundo Asfora
Fez uma frase altaneira:
Disse que matar o homem
Foi uma grande besteira

Porque heróis do seu porte
Vivem de toda maneira,
São vidas imorredouras
Lutando pela bandeira
De justiça e pão na mesa
Nesta nação brasileira.

Eles baterão nas portas
Como uma assombração
De casa grande e engenho
Para sempre viverão
Exigindo mais respeito
Para o camponês irmão,

“Gritando na voz do vento
E clamando por vingança”.
Se João Pedro não morreu
Ainda resta esperança
De se ter reforma agrária
Como bem-aventurança

Nesta terra castigada
Por séculos de injustiça
Se João Pedro não morreu
Não rezem pra ele missa
Mas empunhem sua bandeira
Dando garantia à liça.

Nas estradas de Sapé
Também outro herói passeia,
Sonhando o sonho bondoso
De ter janta, almoço e ceia
Para o seu povo querido
Que ainda hoje norteia

A vida de muita gente
Lutando contra o sistema
Assassino e impiedoso,
Exploração é seu lema.
Contra esse estado de coisa
A desavença é extrema.


Esse herói de quem falamos
Foi seu Biu de Pacatuba
Cujo sangue e o suor
Nossa terra ingrata aduba.
Foi um herói popular,
Seu nome ninguém derruba.

Para contar sua história
Fui ouvir o povaréu
Gente que viveu no tempo
Da ditadura cruel
Perseguidora do povo
Carrasco do tabaréu.

O povo que conheceu
Esse homem tão cordato
Morador de Pacatuba
Em sítio por comodato
Pertencente a Gentil Lins
Que dispensava bom trato

Ao seu morador honesto
De bondoso coração
Tanto que entregou a ele
Por confiar na gestão
O barracão da fazenda
Para administração.

O coronel Gentil Lins
Chegou ao fim de repente
E toda propriedade
Foi repassada pra frente
Passando seus moradores
A ter vida diferente.

Senhor Renato Ribeiro,
Novo dono da fazenda,
Grande latifundiário
Começou uma contenda
Com o Biu de Pacatuba
Que foi viver de moenda.

Saiu da propriedade
Mudou-se pra Borborema
Onde instalou alambique
Pra se livrar da algema
Que lhe impôs o patrão
Acabando com o problema.


Fabricava uma aguardente
Do melhor caldo de cana
Que vendia em Sapé,
Em Pilar e Itabaiana,
Resumindo: todo mundo
Tomava da carraspana.

Severino Alves Barbosa,
Era seu nome completo,
Batizou por “Vitalina”
Esse elixir predileto
Que deixava o cabra tonto,
Insolente e indiscreto.

Viveu assim por três anos
Moendo seu alambique
Até receber convite
Pedindo que abdique
Do seu engarrafamento
Em outro mistér aplique

A boa capacidade
Como administrador
Sendo preposto em fazenda
De um famoso senhor
Dono de terras e gado
Sendo mesmo abonador

De qualquer posto de mando
Na várzea do Paraíba.
Quem contrariasse o homem
Podia arrumar o quiba:
O rico perde o poder,
O pobre morre ou arriba.

Era João Úrsulo Ribeiro
Da família dos Coutinho,
Um sujeito poderoso
Porém não era mesquinho
Na sua fazenda “Una”
Seu Biu armou o seu ninho.

Depois de um ano instalado
Na fazenda do patrão,
Nosso Biu de Pacatuba
Arrumou uma paixão
Casando com dona Helena
Mulher de bom coração.


Nessa fazenda seu Biu
Tinha direito a plantar
A mandioca, o milho,
Lavoura familiar
Pra sua subsistência
Milho, feijão e cará,

Algodão, fava e arroz
Constava da produção
Do seu crescente roçado
Com grande dedicação
Ia aumentando a fartura
Melhorando a condição.

Com a vida progredindo
Ele arrendou uma terra
Na fazenda Miriri
Em um fértil pé de serra
Com um sucesso total
Daí começou a guerra.

Apareceu a inveja
Veio a desarmonia
Pois essa prosperidade
A muita gente ofendia
Sendo alvo de “olho grande”
E de muita antipatia.

Um Pedro Ramos Coutinho
Comprou a propriedade,
Logo seu Biu percebeu
A sua infelicidade
Pois o tal Pedro era um poço
De inveja e de maldade.

Esse Pedro Ramos era
Um preposto e pistoleiro
De um homem poderoso:
Senhor Renato Ribeiro
Forte latifundiário
Do Nordeste brasileiro.

O capanga dos Ribeiro
Era carrasco temido
Por todo trabalhador
Tendo a fama adquirido
Conforme seus maus instintos
Contra o povo desvalido.


Já seu Biu era o contrário:
Homem de bom coração,
Ajudador dos mais pobres
Nunca fazia questão
De auxiliar o carente
E socorrer seu irmão.

Por conta do pensamento
Muitas vezes destemido
Foi seu Biu de Pacatuba
Ficando bem conhecido
Em toda aquela ribeira
Pelo seu jeito aguerrido.

Começou a apregoar
Um ideário atrevido
Sem medo do latifúndio
Ficando comprometido
Com altas aspirações
Causando forte alarido.

Foi seu Biu de Pacatuba
Um homem socialista
E ferrenho opositor
Do patrão capitalista
Apregoando sem medo
Seu discurso comunista:

“Só para vós, camponeses,
Não existe o direito
As bênçãos da liberdade
Nunca lhe dizem respeito,
Vivendo assim nesse mundo
No desespero do eito.

Com filhos desabrigados
Sem pão nem educação,
Mas agora todos sonham
Com uma revolução
Que venha nos libertar
Da cruel escravidão.

A terra bem repartida,
Com justiça e liberdade
É a tal reforma agrária
Pra nossa comunidade
Viver bem e ser feliz
Sem tanta barbaridade”.


Isso foi calando fundo
No camponês oprimido
E apesar do grande medo
O povo foi envolvido
Pelo discurso da fé
Foi sendo amadurecido.

Seu Biu era certamente
Adverso e muito hostil
Aos homens do “posso e mando”
Os quais mantinham servil
O povo daquela terra
Em cativeiro sutil.

Conversando com amigos
Seu Biu foi tendo contato
Com idéias progressistas
E sem muito espalhafato
Foi estudando a maneira
De formar um sindicato

Pra defender os direitos
Do trabalhador, sem medo,
Para isso ele contou
Com o Ivan Figueiredo
E o João Pedro Teixeira
Mudando então o enredo

Daquele povo sofrido
Vivendo em escravidão
Oprimido e dominado
Pelo senhor e patrão
Por isso que sua luta
Causava insatisfação

Aos coronéis usineiros
Que vieram a perseguir
Da forma mais arbitrária
Procurando até banir
Os pequenos fazendeiros
Aos quais passam a agredir.

Seu Biu era o mais visado
No coativo processo
Mas nem mesmo a intolerância
Impediu o seu progresso
Seguindo em frente na luta
Apresentando sucesso


Na colheita do arroz
Que era beneficiado
Por maquinário moderno
Com muito esforço comprado
Pelo Biu de Pacatuba
Um fazendeiro esforçado.

Isso aumentava a inveja
Da turma da reação
Com o Renato Ribeiro
Perfeita comparação
De um déspota malvado
Em plena conjuração

Para perseguir sem dó
Pessoas como seu Biu
Que ousavam discordar
Da prescrição senhoril
Recusando a condição
Da humilhação servil.

Ameaçado de morte,
Seu Biu deixou a fazenda
Comprando um naco de terra
Onde fez sua vivenda
No sítio de Sapucaia
Para evitar a contenda.

Nele plantava inhame,
Milho, mandioca, feijão,
Até um belo pomar
Plantou com grande afeição
Criando gado e suíno
Aumentando a produção

Como bom agricultor
Aumentou o seu roçado,
Para 50 hectares
Passando a ser cobiçado
Incomodando os hostis
Por ter ele encabeçado

Uma mobilização
Com o João Pedro Teixeira
Também Pedro Fazendeiro,
Pra levantar a bandeira
De organização do povo
Encarando essa barreira.


No ano 58
Foi fundada a entidade
Que era a Liga Camponesa
Tendo aceitabilidade
De todos trabalhadores:
Os do campo e da cidade.

Seu Biu foi logo escolhido
Seu primeiro presidente
Quando forte represália
Ele sofreu torpemente
Por forças reacionárias
Que vinham em grande torrente.

61 foi o ano
Da primeira invasão
Pelas forças regulares
Carregando a ambição
De deter aquela marcha
Rumo à libertação.

Seu Biu logrou escapar
Pela cerca do curral
Ferindo as costas no arame
Mas evitando esse mal
De ser preso injustamente
Como um cruel marginal.

Aquele sítio, contudo,
Era indicado no mapa
Da repressão militar
Que na segunda etapa
Consegue prender seu Biu
Com ardileza e socapa.

Foi preciso um batalhão
De soldados bem armados
Para prender esse homem,
Tropa de alienados
Obedecendo as ordens
De homens equivocados.

Reviraram toda casa
Do honesto agricultor
Em busca de alguma prova
De que era agitador
Para incriminar o homem
Que lhes causava pavor.


Com fama de guerilheiro
E também subversivo,
Biu foi levado ao quartel
De modo bem agressivo
Submetido a um termo
De jeito interrogativo.

Com ele Ivan Figueiredo
Junto a João Pedro Teixeira
Formavam um trio de proa
Abrindo grande clareira
No poder do latifúndio
Da forma mais sobranceira.

Os três igualmente presos
Ficaram só oito dias
Em um quartel no Recife
Com muitas descortesias,
Ameaçados de morte
Entre outras vilanias.

De lá ele foi a pé
Pra casa de uma prima
No lugar Jaboatão
Pra refazer-se do clima
De tirania e opressão
Que a qualquer um desanima.

No outro dia voltou
De trem para o seu Sapé
E com grande aclamação
Foi recebido com fé
Pelos correligionários
Remando contra a maré

Porque a perseguição
Continuou com energia;
Tentavam deter o homem
Por meio da asfixia
Econômica e social
Castigando a ousadia.

Teve que se desfazer
Dos seus bens materiais,
Foi alvo de zombarias,
Discriminação e mais:
A família maltratada,
Dor que não passa jamais.


Seu Biu se viu na pobreza,
Humilhado e decadente,
Por querer o bem do povo
Em uma trama indecente
Ele foi sendo envolvido
Vendo-se então impotente.

Família aterrorizada
Sem entender o motivo
De tanta perseguição
E chavão pejorativo
Se ele queria o bem
Daquele povo passivo.

Os filhos do velho Biu
Foram expulsos da escola,
Por vil discriminação
Queriam sua degola
Ele sofria calado
Feito tizio na gaiola.

E assim foram levando
A vida de amargura
Somente sobrevivendo
Por causa da alma pura
Da cunhada que ajudava
Sem se importar com censura.

Os filhos foram crescendo
Na mais cruel tirania
Ninguém dava emprego a Biu
Devido a essa porfia
Nem compravam seus produtos
A família então sofria.

Os bancos não emprestavam
Dinheiro para o plantio
Só de falarem seu nome
Já causava um arrepio
Como se fosse um bandido,
Um terrorista ou vadio.

Sapé então deu as costas
Àquele homem de bem
Que ficou desmotivado
Sem crédito no armazém
Mergulhando em depressão
Diante desse desdém.


O sistema social
Era forte e poderoso
A ditadura feroz
Armava o contencioso,
Socialista era visto
Como um mal contagioso.

Com uma forte depressão
Nosso herói foi internado
Tendo o Dr. Gutemberg
Do seu espírito cuidado
Ficando uns vinte dias
No hospital sendo tratado.

O Dr. Vicente Rocco,
Outro esculápio direito,
Tratou também de seu Biu
Que viu seu mundo desfeito
Diante do grande trauma
Pelo injusto desrespeito.

Um filósofo romeno
Do qual esqueci o nome
Disse: “quer ser homem livre?
Antes morrerás de fome”.
Melhor ser homem servil
Mas encher o abdome.

O sistema só tolera
Dois tipos de componentes:
Os tiranos que exploram
E os subservientes.
Os que lutam por justiça
Serão sempre dissidentes.

A nossa sociedade
É uma prisão sem vigia,
Se é que vocês entendem
Essa minha alegoria.
Mesmo sem guardas nas portas
O jugo não renuncia.

É uma prisão fatal
Da qual ninguém nunca foge.
Somos sempre transigentes
Por mais que alguém nos despoje
Mesmo que toda essa farsa
Nos irrite e nos enoje.


Portanto, Biu Pacatuba
Teve que se desfazer
Do que havia construído
Para ter o que comer
Junto com sua família,
Sofrendo sem compreender

A lógica dos coronéis,
A perversa indução:
Trabalhar quase de graça
Com o famoso “cambão”
Ou ser marginalizado
Se fizesse oposição.

O campônio analfabeto
Pensava que era o destino
Que o trazia cativo
Desde quando pequenino
Passando de pai pra filho
Esse cruel desatino.

Foram heróis como Biu
Que fizeram a diferença,
Demonstrando ao camponês
Que sua luta compensa,
Abrindo novos caminhos,
Mudando sua sentença.

Os anos da ditadura
Fizeram amarga e sombria
A convivência dos homens
Lutando nessa porfia
De ter mais dignidade
E uma vida sadia.

O grande Biu Pacatuba
Deixou dois terços do seu
Coração de guerrilheiro
Para esse povo plebeu,
Comunidade ingrata
Que não o reconheceu.

Biu vendeu os cata-ventos
Gado e casa de farinha,
Desfez-se da fazendola
E de tudo quanto tinha
Indo morar na cidade
Perdendo o prumo e a linha.


Final dos anos 60,
O banco abriu orçamento
Para emprestar dinheiro
Destinado a investimento
Na compra de território
Como aliciamento

De agricultores pobres
Desejosos de investir
Em uma propriedade
Para melhor produzir.
Biu então viu uma chance
De voltar a possuir

Um pedacinho de terra,
Retornando à atividade
De cultivar um terreno,
Sentindo muita saudade
Da sua vida de campo
Nos tempos da mocidade.

Encontrou em Mamanguape
A fazenda Jaguarema,
Terra boa, muita água,
Localização suprema,
Era a oportunidade
De se livrar da algema

Humilhante e tormentosa
De sua ociosidade.
Até mesmo rapadura,
Pra sua felicidade
Era muito produzida
Naquela propiedade.

Qual não foi sua tristeza
E sua decepção
Ao saber que o gerente
Negou sem apelação:
Não validou seu cadastro
Com forte conotação

De censura ideológica
Por ser o Biu comunista
E constar como elemento
Perigoso em muita lista
Do Exército e da Polícia:
Dedução militarista.


Foi assim que Pacatuba
Ficou fora do “Proterra”.
Sem ponto de referência
Estava perdida a guerra.
Mais uma vez o sistema
O seu caminho soterra.

Passou assim a viver
Como Deus foi bem servido,
Um senhor acabrunhado,
Amargo e desiludido
Por ser um homem de esquerda
Ficou pobre e desvalido.

Mas tinha visão incrível
Do mundo que o rodeava;
Para resistir ao cerco
Que cada vez apertava
Apostou na educação
Da família que criava.

Gastou tudo o que restava
Na educação dos filhos
Resistindo desta forma
À opressão dos caudilhos
Dando estudo à família
Para vencer empecilhos.

Vitória dos derrotados:
Jamais se entregam ao hostil
Sob qualquer condição
Inventam qualquer ardil
E dão a volta por cima
Enganando o senhoril.

Como semi-analfabeto,
Só lhe restou apostar
Na formação dos seus filhos
De uma maneira exemplar
Para, de fronte erguida,
O sistema defrontar.

Morando em casa alheia,
Precisando de favores,
Mesmo assim o grande Biu
Não descuidou dos rigores
Para educar a família,
Seus verdadeiros amores.

Nisso, o Banco do Brasil
Abriu primeiro edital
Admitindo mulheres
No quadro de pessoal
Dando oportunidade
Pra juventude em geral.

Maria Helena Malheiros,
Sua filhinha dileta,
Foi aprovada em concurso,
A sua principal meta,
Porque proporcionaria
Uma vida mais concreta

E com mais dignidade
Para a família guerreira
Que soube enfrentar unida
A mais difícil barreira
Para a sobrevivência
Com a crise financeira.

Um outro filho de Biu
Também teve aprovação
Em concorrido concurso
Pra outra repartição,
De modo que a família
Foi saindo da aflição.

Deu-se mais uma tragédia
Isso no ano setenta:
Um dos filhos de seu Biu
Logo se desorienta,
Adoece da cabeça
Em emoção violenta.

Gentil era o nome dele,
Com quinze anos de idade,
Tamanha foi a pressão
Pela animosidade
Que essa pobre criança
Perdeu sua sanidade.

Foi internado em asilo
Para doentes mentais,
Provocando imensa dor
Nos irmãos e nos seus pais,
E daquele manicômio
Ele não saiu jamais.

Perdido o filho caçula
Para a terrível loucura,
O velho Biu só culpava
A injusta conjuntura
Que o perseguia tanto
Causando tal amargura.

Foi no dia 28
De um tristonho agosto
Que o Biu de Pacatuba,
Não aguentando o desgosto,
Deixou enfim esse mundo
Sem as armas ter deposto.

Isso em 75,
Sem pompa foi sepultado,
Esse grande herói do povo
Que tanto foi humilhado
Por lutar pela justiça
Em lugar tão atrasado.

Brigou com todas as forças,
Nunca negou seu pensar,
Quebrando o silêncio agrário,
Buscando concretizar
A organização do povo,
Impelindo o caminhar

Em busca da redenção,
Com fé para questionar
O poder do latifúndio
E seu peso secular,
Peitando as oligarquias;
O marisco contra o mar!

Morreu Biu de Pacatuba,
Morreram também as Ligas
Camponesas do Estado,
Restando apenas lombrigas
De pelegos descarados
E suas baixas intrigas.

Como reconhecimento,
Um grupo foi batizado
Na cidade de Sapé,
Com o seu nome honrado,
Gratidão que atenua
Seu viver atormentado

Depois de 64,
Explodiram o monumento
Para João Pedro Teixeira
Perto de Café do Vento,
Uma violência inútil
Do latifúndio cruento.

A saga daquele mártir
Por justiça social
Ficará sempre indelével
Na memória mundial.
Assim o nome de Biu
Será eterno afinal.

Pois não se pode apagar
Da memória da Nação
Quem se bateu por direitos
De toda população,
Apesar do preconceito
Injusto da reação.

No bairro “Nova Brasília”,
Uma escola cultua
O nome do bravo Biu,
Seu combate perpetua,
Para as novas gerações
Sua saga conceitua.

O Governo do Brasil
Reconheceu afinal
Todo o desregramento
Da ditadura fatal,
Concedendo a anistia,
Reduzindo então o mal

Feito a Biu de Pacatuba
Com uma indenização
Destinada à família,
Espécie de reparação,
Como se tamanha ofensa
Tivesse retratação.


Por sua dignidade,
Ficou notabilizado
Pela imensa bravura
De combater o Estado
E a turma reacionista,
Como um autêntico soldado

Lutando por transformar
A cruel realidade
Da várzea do Paraíba
E toda sociedade,
Sofrendo com a família
Severa barbaridade.

Termino aqui o folheto
Para a memória das Ligas
Com seus bravos ativistas
E as ambições antigas
Que ainda hoje fornecem
Matéria pra muitas brigas.

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