sábado, 9 de abril de 2016

POEMA DO DOMINGO


Ainda sobre Francisco Almeida

Meu compadre poeta Antonio de Pádua Gorrión está editando o folheto “Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia”, pequeno relato sobre um homem valente que sonhou com um mundo mais humano e teve devassado seu corpo por torturadores profissionais. Gorrión deu-me a ordem de produzir mais 12 estrofes para completar a edição. Segue então aqui o trabalho. A linguagem da infâmia deveria ser inepta para a poesia ou para produzir canções. Mas, antes que o silêncio nos corrompa também, é essencial que a gente registre esses fatos. 

Chico Veneno, o homem que intoxicou a burguesia

Autor: Fábio Mozart

Deixou semente na terra
Dois netos italianos
Tem Iuri e tem o Victor
Sucessores carcamanos
Que devem ter ufania
Do avô e seus bons planos

De lutar pela justiça
Com o próprio sangue aduba
Essa semente de fé
Vide o Biu Pacatuba
Cuja história escrevi
Credo que ninguém derruba.

“Quando o feroz latifúndio
Matou João Pedro Teixeira
O grande Raimundo Asfora
Fez uma frase altaneira:
Disse que matar o homem
Foi uma grande besteira

Porque heróis do seu porte
Vivem de toda maneira,
São vidas imorredouras
Lutando pela bandeira
De justiça e pão na mesa
Nesta nação brasileira.

Eles baterão nas portas
Como uma assombração
De casa grande e engenho
Para sempre viverão
Exigindo mais respeito
Para o camponês irmão.”

A sua morte ainda hoje
Nunca foi esclarecida
A versão do suicídio
Por muitos foi rebatida
Pelas circunstâncias dadas
A tese não revalida

O jornalista Alarico
De nome Correia Neto
Que conheceu o Francisco
Tendo por ele afeto
Acha que o autoextermínio
Não é pretexto correto

Para se enunciar
Que Francisco se matou
Por angústia pessoal
Como disso se tratou.
“Esse fato é um mistério
Que a história não desvendou”.

A própria Lourdinha Almeida
Com muita propriedade
Lembra que sua família
Não teve oportunidade
De fornecer uma oitiva
À Comissão da Verdade.

A Comissão investiga
As graves violações
Cometidas por agentes
A mando dos figurões
Contra muitos ativistas
Nos regimes de exceções.

Lourdinha, que é irmã
De Francisco, seu herói,
Acha que o tempo passou
E nada se reconstrói.
“A nós, só resta saudade,
E o mal por si se destrói”.

O fato é que Chico de Almeida
Foi um defensor do povo
Protagonista da História
Perseguidor de algo novo
Chamado revolução
Com o seu grande corcovo.

F I M

Nenhum comentário:

Postar um comentário