segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Versos fesceninos
Poeta Heleno Alexandre
Registro em ata minha admiração pelos poetas repentistas. A sabedoria cósmica e humor arretado desses caras os tornam artistas excepcionais. Hoje quero falar de dois poetas desse naipe, Heleno Alexandre e Antonio Xexéu. Heleno é de Sapé, tem 36 anos, diretor de programação da Rádio Comunitária Sapé, produtor e apresentador do programa “Violas e Violeiros”. Já cantou até no Ceará, na TV Diário, no programa “Ao Som da Viola”. Na Paraíba, de vez em quando aparece no “Cantos e Contos” da TV O Norte. Mas o que gosta de fazer é apresentar-se em escolas públicas e comunidades carentes, levando a cultura popular para as novas gerações.
Antonio Xexéu é de Itabaiana, tem 53 anos, poeta de rua, como gosta de dizer. Pega a viola e sai cantando pelas feiras do Nordeste, com ou sem parceiro, com público ou sem, com dinheiro ou sem nenhuma grana. Admirador do grande Manoel Xudu, Xexéu um dia encontrou-se com Heleno em uma venda, na fazenda Taumatá. Depois de engolidas algumas lapadas de mel de abelha com cachaça de cabeça, os dois vates começaram a cantar safadeza, aqueles versos fesceninos, um bocado licenciosos. Heleno Alexandre é um sujeito erudito, escolado, longe do padrão dos poetas repentistas analfabetos do Nordeste. Ele faz questão de esclarecer que na Roma antiga que falava latim, os versos fesceninos eram populares, porque se acreditava que a obscenidade tinha o poder de afastar o mau-olhado.
Antonio Xexéu é também cantor da trova libidinosa, mas sem a erudição do companheiro. Afinal, “só terminou a cartilha do ABC e a tabuada”. Começaram a cantar um “trocado”, quando Heleno falou de suas façanhas masturbatórias:
Eu trabalho atualmente
Na Fazenda Santa Esther
Meu patrão tem uma mulher
Que é o satanás em gente
Quando ele está ausente
Ela chega no terreiro
Passa a mão no corpo inteiro
Aumentando o meu tesão
Eu vou me acabar na mão
Feito colher de pedreiro.
Xexéu aproveitou a passagem de um casal de caprinos para cantar:
A cabra ensinou ao bode
A demonstrar compostura
Acabar com essa frescura
De comer cu, que não pode!
Eu faço barba e bigode
Disse o bodinho tarado
Já ficando aperreado
Com o cacetinho duro
Encostou no pé do muro
Dizendo: fode ou não fode?
Heleno tem dez anos que canta repente. Até escreveu um livro por nome “De repente...Dez anos”, que pretende lançar em breve. Antonio Xexéu publica folhetos de cordel com temas atuais e estórias que ele inventa. O último folheto ele escreveu em homenagem à prefeita de Itabaiana, dona Dida. Foi na última campanha política. O folheto começava assim:
Até quem não é daqui
Conhece a nossa prefeita
Uma mulher competente
Honesta e muito direita
Que plantou dignidade
E agora faz colheita.
Assim o poeta canta
Nessa nossa louvação
O mister de dona Dida
Na sua administração
Chamada “Um Novo Tempo”
De competência e ação.
Mas porém todavia, a prefeita não honrou o compromisso de pagar ao poeta, que por vingança espalhou uns versinhos maldosos:
Dona Dida e Antonio Carlos
Protagonizam novela
Ela falando mal dele
Chamando moça donzela
Ele esculhamba a prefeita
Não presta ele nem ela.
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