domingo, 30 de agosto de 2009

A fazenda modelo do Dr. Odilon Maroja



Vila de Guarita, no município de Itabaiana

Meu estimado amigo, jornalista Geraldo Almeida, fez a gentileza de me ofertar dois livrinhos de sua editora Itabaiana Hoje, acabados de sair do forno. No mesmo final de semana, recebo do meu outro dileto amigo Beto de Zé de Paulo o livro de crônicas “Águas do Povo”, de autoria do itabaianense Reginaldo Alves de Araújo, radicado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

O livro de Reginaldo ainda estou lendo. Belas crônicas de sua terra adotiva, a cidade de Aquidauana. Histórias dos pioneiros daquele eldorado no coração do Brasil. Já li os dois volumes, presentes de Geraldo, até porque são brochuras com 39 páginas.

Um deles, escrito por Cláudia Lopes Cavalcante, chama-se “Porque Deixei Campo Grande”. Relato da trajetória de vida da professora Cláudia, apresentado pelo próprio Geraldo Almeida de Aguiar. Para ele, “dona Cláudia foi professora muito estimada na comunidade da Escola Elementar Mista Solon de Lucena, na margem esquerda do rio Paraíba, construída pelo prefeito Fernando Pessoa, em 1926”. Ela foi a última professora naquela escola, “já que na gestão do prefeito Luiz Paulino foi construída uma nova escola em terras de José Dias de Oliveira.”

O outro livreto é uma relíquia da literatura itabaianense, escrito por Mário Melo, contando a viagem que fez no começo do século vinte à Fazenda Modelo, em companhia do Dr. Odilon Maroja. O relato foi publicado no jornal “O Município”, da cidade de Itabayanna, como se grafava na época. O autor conta que partiu de Itabaiana para Salgado de São Félix a cavalo, passando por Guarita, “uma pequena povoação que antes era conhecida por Lauro Muller, nome em homenagem ao ministro que mandou fazer a estrada de ferro e a belíssima ponte ferroviária”, ainda hoje existente no vilarejo. Na viagem, os excursionistas visitaram as obras do “templo cathólico de estylo góthico”, que vem a ser a igreja de Guarita. O autor demonstra certa depressão ao passar “entre meia dúzia de casas brancas, sem estylo, sem arte, sem alinhamento”. Guarita permanece quase do mesmo jeito.

Os viajantes são recebidos na fazenda modelo, na povoação de Salgado de São Félix, “uma pequena vila semelhante à Guarita, si bem que mais povoada, tendo uma rua única, de cerca de cincoenta metros de largura, que se estreita mais adiante num lastimável desalinhamento, para se alargar aproximando-se do leito do rio”. De utilidade pública possui apenas duas escolas municipais, uma agência dos correios e a capelinha consagrada a São Félix. Quem olha para o oriente, vê um prédio de estilo não definido, aparentando um “pomposo palácio”. É a casa do dono da fazenda Modelo, cujas terras penetram no Estado de Pernambuco, com as propriedades Salgado, Alagamar, Campos, Amazonas e São José, estas duas últimas em terras pernambucanas. Nessas fazendas plantava-se o algodão e se praticava a criação de gado vacum. Na época, Odilon Maroja fazia melhoramentos genéticos em búfalos e outras raças como a famosa vaca leiteira “Hollandeza”. Na fazenda ainda imperava o “Caracu”, primeiro boi trazido para o Brasil, de origem portuguesa, bom de carne, de trabalho e de leite.

Resumindo, o autor destaca a fazenda Modelo de Odilon Maroja como “um empreendimento notável pela situação geográfica e geológica, pela uberdade do solo e condições climáticas”. Sem falar na administração modelo.

Hoje você chega a Salgado, vindo de Itabaiana, e vê o antigo “pomposo palácio” dos Maroja caindo aos pedaços, em ruínas, corroído pelo descaso, denotando o desrespeito à memória do lugar. Ruínas urbanas e rurais, porque a fazenda Modelo nasceu antes do povoado. É a gênese de Salgado de São Félix, que deixa à margem sua riqueza histórico-cultural. Lastimável o fim de uma fazenda que já foi considerada modelo no começo do século vinte, hoje um imóvel esquecido pelos herdeiros e pelo poder público, em processo quase irreversível de degradação.

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