terça-feira, 25 de agosto de 2009

Bolo no ventilador


Um dia, o cerimonial do governo do Estado da Paraíba andou por caminhos nunca dantes navegados, com a licença de Camões. E foi por obra e graça de um sujeito totalmente avesso a esse negócio de formalidades. Quem o conhece sabe do que falo. Trata-se do músico e poeta Pedro Osmar, que foi indicado para representar a Associação Paraibana de Imprensa na festa de aniversário do governador, o também poeta Ronaldo da Cunha Lima.

Pedro, na condição de diretor de cultura da API, apresentou-se na entrada da festa em trajes, digamos, não muito convencionais: bermuda básica, chinelos e camiseta. Os porteiros foram logo implicando com o homem, mesmo ele portando o convite oficial. Consultado, Ronaldo mandou Pedro entrar, conhecendo sua espontaneidade.

Toda a Paraíba oficial estava no salão nobre do Hotel Tambaú, a nata da sociedade, as madames com seus vestidos delirantes, os homens nos seus melhores ternos, a minoria que detinha e detém o prestígio e o domínio na nossa Paraíba provinciana estava toda lá para homenagear o governador. Começando o cerimonial, os oradores se sucediam na louvação ao aniversariante. E haja coquetel, bajulação em prosa e verso ruim, em uma noite que prometia muita badalação para mais de 500 pessoas. Pedro Osmar estava no seu cantinho, quase invisível, mas mesmo assim um incômodo à nata da sociedade ali presente.

Os discursos tão chatamente típicos desse tipo de evento se sucediam, e Pedro ia enchendo o saco devagarzinho. Chegou o momento de convidar os representantes das entidades presentes, e o nome de Pedro Osmar foi solenemente ignorado. Tudo caminhava para um desastre iminente, mesmo porque Pedro começou a ridicularizar os enfastiados convidados e suas madames.

Na hora de cortar o bolo, Ronaldo Cunha Lima já estava, ele também, entediado com aquele bajulismo irritante, doido para tomar sua cachacinha num boteco qualquer, declamar seus versos no meio de pessoas espontâneas e francas. O Mestre de Cerimônia iniciou o ritual de corte do bolo, esquecendo de convidar o diretor da API para participar do festim. Foi um erro de consequências fatais para o bom andamento da cerimônia. Pedro meteu as duas mãos dentro do imenso bolo e começou a jogar em volta, sujando as preciosas roupas das madames e os trajes formais dos cavaleiros. Aí, meu camarada, foi quando a porca torceu o rabo, a vaca tossiu e a arara cantou. Achando pouco, ele pegou o resto de bolo e jogo no imenso ventilador de teto.
No meio do tumulto, alguém acionou a polícia. Em segundos, a porta do hotel estava coalhada de policiais. Veio a rádio-patrulha, a cavalaria, o canil, a guarda municipal e os demais meganhas para deter o atrevido poeta que bagunçou a festa do governador. Pedro Osmar só não foi preso porque Ronaldo saiu com ele do hotel, abrindo fileiras no meio dos soldados, conduzindo-o para local seguro.

Depois disso, Pedro achou por bem dar um tempo. Viajou para São Paulo, deixando a Associação Paraibana de Imprensa com a ingrata missão de se desculpar com o governador pelos inconvenientes causados por seu representante naquela fatídica festa. O prejuízo maior: as fotos das madames não puderam ser publicadas nas colunas sociais do dia seguinte. Ninguém queria aparecer como personagem de pastelão!

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