O jornalista pernambucano Dioclécio Luz escreveu um livro chamado “O que é rádio comunitária”. Essa espécie de manual de guerrilha da comunicação mostra que rádio comunitária é algo simples, prazeroso e também revolucionário. Diz também que rádio comunitária é o oposto de rádio comercial. Sua história está apenas começando no Brasil, por isso todo mundo é livre pra inventar novas formas de fazer rádio, fugindo dos padrões conhecidos, das velhas fórmulas usadas pelas emissoras comerciais para garantir audiência.
As rádios comerciais até parecem com as comunitárias, mas são muito diferentes. Primeiro, uma rádio comercial baseia sua ética no mercado. Se for bom pra garantir audiência tocar música desqualificada, que deseduca e desrespeita nossos valores morais, que se danem os valores! Na comunitária não deve ser assim. O respeito à vida, às minorias, ao ser humano em geral, à nossa cultura e ao meio ambiente está acima de tudo. Enquanto numa radio comunitária a prioridade é promover a verdadeira cultura e o desenvolvimento da comunidade, na rádio comercial o que se promove é o lucro dos proprietários. Jornalismo feito pelas rádios comerciais é voltado para os interesses dos ricos, das elites. Na comunitária, o povo é quem faz o jornalismo, debatendo os temas com a profundidade que cada um merece. Nessas rádios, a audiência é secundária, porque o mais importante é a integração da comunidade, a difusão da inteligência, da cultura e da arte.
A programação de uma rádio comunitária deve atender aos seguintes princípios:
1. preferência a finalidades educativas e informativas em benefício do desenvolvimento geral da comunidade;
2. respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família;
3. não discriminar religião, raça, sexo, preferências sexuais, convicções político-ideológico-partidárias e condição social.
Quem sai um milímetro dessa linha de conduta, está maculando os princípios da rádio comunitária.
E outra coisa fundamental é a democracia interna. A luta pelas rádios livres e comunitárias faz parte de um doloroso processo de democratização dos meios de comunicação no país. Muitos companheiros lutaram, se sacrificaram, foram presos e perderam patrimônio nessas batalhas. Até uma companheira do Piauí morreu em confronto com a repressão covarde, que invade residências, salas e outros ambientes como se lidassem com marginais perigosos, quase sempre de forma ilegal. Quem consegue a outorga, a licença para operar, deve saber que vai gerenciar um bem público que é o espectro eletromagnético, e que deve dar de retorno ao povo a promoção da arte, da cultura e da educação. Para isso é preciso fazer uma rádio diferente, fora dos padrões das rádios comerciais, com imaginação e acreditando na força criadora do povo, principalmente da juventude. É abrir as portas da rádio para a sociedade participar, que é um direito dela.
Na continuidade dessa série de croniquetas sobre rádios comunitárias, veremos a programação e como fazer um bom programa.
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