sábado, 27 de junho de 2009

Briga de Galo em Mari

A inspiração para esta croniqueta me veio após leitura de um livrinho que remete a lembranças da velha Pilar e da encantada cidade de Mari. O livro tem por título “Pilar”, de José Augusto de Brito, filho de seu Augusto e de dona Mocinha, sujeito que, igual a mim, dedicou sua vida a trazer ao conhecimento “de meia dúzia de abnegados que me leem, a vivência, os tipos característicos, as belezas imorredouras e fatos alegres e tristes” da querida terrinha. No livro, José Augusto insere uma crônica falando de sua vida profissional “na difícil e antipática missão de cobrador de impostos”.

Começou em Princesa Isabel, nos confins do sertão paraibano, e foi parar em Sapé, onde reinava um coletor duro na queda, o itabaianense Roderico Borges, vigilante vinte e quatro horas na tarefa de cobrar os impostos devidos ao Estado. Na volta de Roderico, a coletoria teria que duplicar a arrecadação.

Pois o nosso José Augusto foi mandado por Roderico à cidade de Mari, para fazer uma devassa, substituindo o coletor João de Barros que só pensava em briga de galos, esquecendo o dever de cobrar impostos. Só que José Augusto, de tanto se envolver com galistas, virou também um aficionado desse esporte, tendo prazer em ver os galos se despedaçando em uma arena. Em vez de se preocupar com os talões e notas fiscais, com a repressão aos sonegadores, o homem estava se tornando mesmo um especialista em esporões, bicos e todo o ritual das brigas de galo.
Na cidade de Pedro Tomé, a sonegação andava solta, mas o coletor era juiz de briga de galo, e dos bons! Quase todos os habitantes da cidade eram galistas, menos o padre e mais meia dúzia de sujeitos esquisitos. “Só se falava em rinha e aposta. O coletor, só ele, possuía mais de cem galos de briga”, constatou Augusto.

Como a renda caiu, Roderico Borges resolveu fazer uma visita de surpresa à coletoria de Mari. Chegou no dia da feira e encontrou a coletoria fechada. Procurando saber do paradeiro do coletor, um cabra o levou a um galpão onde já estavam galos que cocoricavam, homens que palestravam e criadores dos bichos. Logo depois começaram os risos, insultos, gritos, cochichos, gargalhadas e papos de galistas, sopesando galos num clima de véspera de luta. E nada do coletor José Augusto!
De repente, escolhidos os dois galos para a primeira luta, as pessoas que se espremiam deram lugar para passar um homem de ar solene, suor escorrendo pela face. Chegou perto da rinha e ficou observando os galos inquietos, elegantes e rijos, cocoricando. O homem sisudo pegou nos galos, examinando-os. Apalpou, sentiu a rigidez dos músculos, observou as asas, as pernas o pescoço, o peito. Examinados os esporões e tudo o mais para ver se havia alguma fraude, deu-se a ordem para o início do combate. Foi aí que Roderico Borges saltou da arquibancada e gritou:

--- Aposto dez no galo preto e cem como o juiz está removido da Coletoria de Mari!

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