segunda-feira, 29 de junho de 2009

Crise no jornalismo matuto

Ao chegar na rodoviária de Itabaiana, sou abordado por Lourenço jornaleiro, perguntando pelo “Tribuna do Vale”, nosso mensário que circula há seis anos na região do vale do Paraíba. Os assinantes reclamam que suas assinaturas não foram renovadas. Nos últimos meses não receberam as edições do jornal. É a crise! Só se fala nisso no Brasil. Essa tal de crise vem sendo desculpa para muito incompetente.

Em tempos de dificuldades, as empresas precisam redobrar os esforços para cumprir o que prometeram aos clientes. Isso nós fizemos. Publicamos o jornal e entregamos na casa de cada assinante até o último mês do contrato, mesmo assumindo prejuízo financeiro. Agora, vamos esperar passar o tempo de vacas magras para voltar.

Neste ano de 2009, o jornal TRIBUNA DO VALE completa seis anos de circulação no Vale do Paraíba, com algumas interrupções. O jornal, como bem cultural, tem a propriedade de fixar a vida que passa. Daqui a cem anos, os pesquisadores estarão se debruçando sobre as coleções do TRIBUNA DO VALE, pois um jornal centenário oferece uma oportunidade singular em termos de registros históricos, documentando a vida em suas tristezas, emoções e sobretudo relatando com responsabilidade e respeito, como é nosso caso, os fatos ocorridos.

Enquanto não comemoramos nosso centenário, vamos fazendo história, e nos credenciando perante nossos leitores. Na edição de janeiro de 2003, quando registramos o episódio da invasão da redação deste jornal pela Polícia Federal, e a prisão dos seus redatores, escrevi que o TRIBUNA DO VALE comemorava o primeiro ano de existência em Itabaiana e cidades circunvizinhas, ostentando a fama de se antecipar e abrir caminhos em vários aspectos, nessa seara do jornalismo matuto. Somos pioneiros, em Itabaiana, no formato tablóide francês. Que se saiba, em Itabaiana jamais circulou um periódico com esse formato. Depois, a TRIBUNA também é pioneira na rede mundial de computadores, sendo o primeiro jornal da região a ter sua edição on line, na Internet. (Atualmente estamos com nossa página fora do ar). No aspecto de gênero, somos o primeiro periódico itabaianense a ser dirigido por uma mulher, o que nos coloca com muito orgulho na vanguarda social, pois atualmente as mulheres avançam, com sua capacidade e sensibilidade, no comando das ações que exigem disciplina, tenacidade e sentimento. Ponto para a jornalista e radialista Clévia Paz, nossa estimada amiga.

Fazer jornal no interior é uma missão de vida, antes de ser um empreendimento comercial. Somos o primeiro jornal sediado em Itabaiana a circular em 12 cidades da região. Nessas comunidades, a TRIBUNA DO VALE já se consolidou como um veículo de debate das questões que interessam ao povo e aos seus governantes, com respeito e competência.

Sobre o episódio da invasão de nossa redação pela Polícia Federal, 14 dias após a posse do presidente Lula, registramos nosso orgulho por mais esse pioneirismo. Fomos presos, eu e o compadre Marcos Veloso, acusados de incentivar a livre manifestação do pensamento, através de uma emissora comunitária de baixa potência. Esse fato ficou registrado no rol das lutas libertárias de Itabaiana, onde o Brasil aprendeu as primeiras lições de liberdade, ainda no período colonial. Sem querer ser heróis de nada, nós, que fomos detidos por abrigar projetos de livre expressão, sofrendo a repressão política do governo do PT, aparecendo na mídia nacional como os primeiros presos políticos da era Lula, hoje vemos o Brasil ser denunciado na Organização dos Estados Americanos por conta da violência praticada contra as rádios comunitárias. Por não se tratar de um delito, como afirmou o Juiz Emiliano Zapata, ao absolver os redatores da TRIBUNA DO VALE, não é um crime de repressão. Muitos juízes brasileiros não consideram crime o funcionamento de rádios comunitárias sem licença, pois o Estado é omisso, ao não dar resposta aos pedidos de concessão de canal.

Mas isso é outra história. Hoje queremos apenas comemorar a sobrevivência, por seis anos, desse pioneiro projeto de comunicação, agora com mais um registro histórico: somos o primeiro jornal de Itabaiana impresso em policromia, em edições com 10 páginas. A Tribuna vai retornar porque é um projeto de vida, antes de ser um empreendimento.

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