sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Boemia e futebol



Valdo "Enxuto"

Cheguei em Itabaiana no ano de 1958 para assumir cargo nos Correios. Fui morar em Campo Grande, na casa do meu tio Alceu Almeida, prefeito da cidade. Nesse ano, entrei no cabaré da rua 13 de Maio, o célebre Carretel, e só saí em 1970, quando casei.  

 

A boemia foi minha primeira paixão na terra de Moça Homem, mulher braba que comandava uma pensão famosa no Carretel. A segunda foi o futebol. Reparai que as duas coisas não combinam, mas para um jovem, a vida é eterna e muitos janeiros se passam até a gente perceber que somos mortais. Diverti-me demais com os amigos nas mesas de bar e no campo de futebol, na quadra e na seresta, no treinamento físico e no severo exercício da cópula. 

 

Foi na mesa de bar e no futebol que conheci meus melhores amigos na terra de Josué Dias, irmão do sanfoneiro Sivuca e grande boêmio. O galego Josué prestou o maior dos serviços à sua gente: foi prefeito com serviço muito bem feito e usou seu critério e sua honradez para defender os pobrezinhos de Jesus nas barras dos tribunais, como advogado dos pobres e desvalidos da sorte. Ao seu lado, o rábula Arnaud Costa, dois amigos contra a ditadura e a favor dos frascos e comprimidos. Nunca fui muito de me meter em política, mas sei que Arnaud e Josué não foram apenas amigos e dedicados correligionários do partido de oposição, mas construtores da moderna Itabaiana com suas ideias e movimentos sociais, culturais e esportivos na terra de Zé Tavares, um dos mentores do nosso futebol.

 

Foi esse mesmo Zé Tavares o fundador do Vila Nova, clube de minha predileção, onde atuei muitos anos defendendo suas três cores gloriosas. No final da década de 50, já existia o nosso grande rival, o União Sport Clube comandado por João Cavalcanti, Zequinha Bandeira e Arnaud Costa. Com o surgimento de outras equipes, Zé Tavares achou por bem organizar a Liga Itabaianense de Desportos. 
 

Resumindo, conheci Arnaud Costa como jornalista do jornal “A Folha”, desportista comandando o União e a Liga, político vibrante nos palanques e farrista nas noites do Carretel, enfim, um cidadão com as melhores recomendações porque viveu a vida. Como diz o velho ditado popular "todo homem só pode dizer que viveu a vida depois que plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho". Arnaud já foi responsabilizado por cinco rebentos, árvores já plantou muitas quando era secretário da Prefeitura, e este livro já é o segundo de sua autoria. Portanto, provado está que Arnaud Costa viveu e conta o anedotário de sua vida de desportista neste gostoso livrinho, no qual teve a gentileza de reservar-me o direito de escrever essas palavras a título de prefácio. 

 

Sem o devotamento de pessoas como Arnaud Costa não seria possível contar a história recente de Itabaiana, porque ele e mais alguns de sua época realizaram enormes trabalhos em prol do social, cultural e esportivo.

 

Um abraço ao velho companheiro Arnaud Costa, com o coração repleto de gratidão!

 

Valdemir Almeida da Silva (Enxuto)

 

(Prefácio do livro “Fatos pitorescos do futebol”)

Um comentário:

  1. “Esse é o cara” frase que atualmente o povo identifica um cara do bem.. Valdemir, que para nós itabaianense é simplesmente “ Valdo”, é esse cara completo em tudo. Não tive uma amizade tão de perto com Valdo até porque ele diz que chegou em Itabaiana em 1958 e eu ainda era criança, assim sendo somos de geração vizinha, mas alcancei um pouco do seu convívio. Valdo é sinônimo de Itabaiana. Não podemos falar de Vila Nova, Tic-Tac, Itabaiana Clube, Carnaval, Boemia, Carretel e de Correio e Telegrafo sem falar de Valdo, então “ Itabaiana é Valdo” e “Valdo é Itabaiana”.
    Disse e repito, apesar de não ter sido aquele amigo de Valdo, dele só tenho boas lembranças. Vivíamos uma época preconceituosa e cheia de falsos moralistas. Valdo era superior a tudo aquilo. Amigo para ele era amigo, fosse rico ou fosse pobre, fosse branco ou fosse negro, fosse uma moça donzela ou prostituta , fosse boêmio ou não, ele era único e sempre estava com seu sorriso aberto para todos e com aquela alegria contagiante.
    Alguém pode até questionar se digo que não fui tão próximo a ele, porque falo dele assim? Explico. Sempre que estou reunido com amigos itabaianenses, rememoramos os eventos e as pessoas, e as referencias a Valdo são de muito carinho e dentro desse contexto que exponho, portanto é essa a marca registrada de Valdo.
    Não posso terminar sem relatar um fato. Recentemente estando em João Pessoa encontrei Valdo e Dedinha no manaíra shopping. O tempo passou e Valdo congelou, ta o mesmo, jovem, feliz e sorridente como no passado. Eu que acima disse que quando ele chegou e Itabaiana eu era criança, hoje sou o velho e ele aquele jovem.

    Orlando Araujo

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