terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Chegou o General da Banda



Blecaute

Nesta terça-feira de Carnaval, vou no Youtube e ouço Blecaute, o General da Banda. Esse Blecaute era um compositor e cantor que nasceu em São Paulo. Menino negro, foi engraxate, vendedor de jornal e frentista de posto de gasolina. Veio para o Rio de Janeiro para fazer sucesso no carnaval carioca nos anos 40. O apelido "Blecaute”, uma forma abrasileirada da expressão inglesa "black out", ou seja, "preto por fora", era uma provocação racista que ele encarava com naturalidade, conforme diz o site Musicograma.

Morreu em 1983, aos 64 anos. Neste carnaval de 2013, reflito sobre a obra deste artista popular nestes 30 anos de sua morte, lembrando sua música mais famosa, o “General da Banda”. Na letra simples da marchinha: “Mourão, vara madura que não cai, catuca por baixo que ele vai”. Quando os generais tomaram o poder em 1964, proibiram a execução do “General da Banda”.

Para mim, o General da Banda ficou como uma espécie de carro chefe das músicas que gozavam, ridicularizavam e ironizavam o regime militar, mesmo sem ter sido esta a intenção quando o compositor a criou, como parece ser o caso do Blecaute. O talento e a criatividade de antigos foliões me vêm à mente nesta terça-feira de carnaval sem graça de 2013. Para mim, um General da Banda foi o tipógrafo e comunista Nabor Nunes de Figueiredo, que saía com fantasias extremamente criativas nos velhos carnavais de Itabaiana, alegorias que criticavam o regime, uma espécie de Ala Ursa engajada, o bloco de um homem só com seus conceitos socialistas e sua cabeça arejada de boêmio. 

O General da Banda é o cara cuja postura confronta diretamente com toda mentalidade autoritária e castradora das liberdades. O velho repentista Pinto do Monteiro cantava: “Quem me governa é Jesus, corno nenhum me governa”. Era um General da Banda da poesia popular. Esses artistas populares como Nabor Nunes me fazem reviver um país que, mesmo no sufoco de uma ditadura cruel e burra, participaram com intensidade e grandeza no eterno cordão dos que cantam a vida e a liberdade. “Faz escuro, mas eu canto”, celebrava com sua voz rouca o poeta Belchior, um dos seresteiros nas noites dos generais de quepe ridículo e postura idem que queriam mandar em nossos carnavais e em nossas vidas. “Não põe corda no meu bloco nem vem com teu carro chefe”, declamava João Bosco, outro General da Banda que “não dava ordens ao pessoal”. 


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