sexta-feira, 14 de maio de 2010
Você tem orgulho de quê?
Outro dia tomei um táxi com o pior motorista da Paraíba, terra que não é muito conhecida pela habilidade dos seus condutores. O cara mudava de pista sem aviso, colava nos outros carros, desatento ao que se passava ao seu lado. No tabeliê o adesivo: “orgulho de ser taxista”. O sujeito que quase me matou, desviando para uma via de saída no último momento, apertou minha mão quando chegamos ao destino, sorridente e orgulhoso.
Mais traumático foi outro doido do volante que atendeu ao meu sinal. Parou o táxi, entrei e anunciei o destino. O motorista seguiu pelo lado contrário. “É que nunca vou para onde os outros querem. Tenho personalidade”, explicou o rapaz, certamente orgulhoso não de sua profissão, mas de sua condição de piradinho da silva.
O sujeito se virou ligeiramente e lá estava escrito às suas costas: “Orgulho de ser gay”. Eu também gostaria de salientar, sem nenhuma falta de respeito, claro, que tenho orgulho de ser heterossexual, mas acho isso tão banal! Não presumo que a humanidade venha a querer saber o que eu faço da minha sexualidade entre quatro paredes. Aliás, a verdadeira medida de um homem não é o que ele faz quando está sendo observado, mas o que ele faz quando está sozinho.
À luz do fato de que todo torcedor é um imbecil, torço o nariz para as camisetas com a frase: “orgulho de ser corintiano”, ou flamenguista, ou vascaíno. Achei legal a camiseta com a frase: “Sou paraibano e não NEGO”. Para os estrangeiros: a palavra NEGO está escrita na nossa bandeira rubro-negra, aliás, uma das poucas bandeiras a ostentar palavras.
Quando eu era diretor de uma rádio comunitária em Mari, bolei uma frase legal e mandei fazer adesivos para automóveis: “Gosto de viver no melhor clima do Nordeste. Moro em Mari”. Fiquei orgulhoso de meu repentino talento para a publicidade. Depois descobri que a grande piada sou eu mesmo enquanto criador de frases de efeito.
Envelheceram juntos e o sexo tornou-se irrelevante. O coroa jamais deixou seu lado irônico. Mandou pintar na camiseta: “orgulho de ser brocha”. Outro gozador organizou um bloco carnavalesco com os amigos da rua: “Orgulho de ser corno”. Uma madame enfezada reclamou da falta de respeito na comunidade, sendo orientada a fundar seu próprio bloco: “Orgulho de ser puta”.
Por um fio de cabelo deixei de nascer na Paraíba. Poderia ter sido feliz no vizinho Pernambuco, mas acho ótimo ser feliz na Paraíba do Norte. Como todos os verdadeiros amantes, meu amor pela Paraíba jamais caiu na rotina. Meus cabelos se tornaram grisalhos, a velha Paraíba adquiriu flacidez em volta dos quadris, mas o tesão continua. Antes de ficar completamente metafórico, abro minha faixa: “Orgulho de ser paraibano”.
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