sábado, 29 de maio de 2010

O homem que inventou Zé da Luz


Bastos de Andrade e Zé da Luz, no Rio de Janeiro

Impressionante constatar como a vida é o eterno retorno, como nos conta Nietzsche. Vida longa ao poeta Jessier Quirino! A visibilidade midiática do bardo campinense é uma forma afirmativa de divulgar nossa nordestinidade, criando uma arte pulsante que continua viva por causa de outros artistas que o antecederam.

De Itabaiana, recordamos o poeta declamador Bastos de Andrade, o homem que ensinou Zé da Luz a fazer versos matutos desde menino. É que os dois são irmãos, sendo que um ficou famoso e o outro não alcançou a divulgação que sua arte merece.

Lá pelo início da década de 50, um homem com o olhar calado e manso, bem vestido com terno e gravata, um tal de Bastos de Andrade, inaugurou um programa na Rádio Tabajara intitulado “Mensagem para o rancho”. Dali em diante, por uma década, diariamente ele contava causos e declamava poesia para os milhares de ouvintes aonde chegava o sinal da potente rádio do Governo. A Paraíba toda se acostumou a ligar o rádio pontualmente às 18h05 para se deliciar com o humor e a rima fácil de sua poesia, num linguajar matuto que conquistou grande contingente de apologistas, tal qual acontece hoje em dia com o festejado declamador/cantor/compositor/poeta Jessier Quirino.

Na capital, Bastos de Andrade montou o Café Agável, na Maciel Pinheiro, centro nevrálgico da zona boêmia de João Pessoa. Todos os dias, ao sair dos estúdios da Rádio Tabajara, após o programa, ele ia colher os frutos da popularidade, recebendo amigos e continuando a contar suas estórias, todas elas saídas de suas memórias itabaianenses, com toda a humanidade nelas contida.

Querido e respeitado por todos, Bastos de Andrade fez história na radiofonia paraibana. Fala-se tanto em Zé da Luz, mas, embora reconhecendo a beleza e originalidade da obra do poeta, ouso dizer que seu irmão foi quem rompeu os limites da literatura oral e escrita em nossa terra, popularizando a poesia regional. Hoje tem analfabeto que declama Jessier Quirino de cor, por causa do CD e do rádio. Há 60 anos atrás, Bastos de Andrade seguia a mesma trilha, com a mesma verve e talento. Sem Bastos de Andrade não haveria Zé da Luz, e talvez nem Jessier Quirino.

No dia 30 de julho de 1984, morre Bastos de Andrade no Prontocor, vítima de ataque cardíaco. Fertilizou as raízes da árvore frondosa da poesia regional. É a roda da história. Cada um que abre seu próprio caminho nessa vertente artística, de uma forma ou de outra está bebendo na fonte de poetas como Bastos de Andrade, esse artista que é mais uma estrela, mesmo semioculta, na constelação dos astros de primeira grandeza de Itabaiana.

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