domingo, 1 de junho de 2014

POEMA DO DOMINGO

Desenho de Léo Lago


Duelo de Deus e o Diabo no reino da poesia

 

Numa cena avessa e distorcida
Eu sonhei com o fim, o desenlace,
Eu vi Deus e o Diabo, face a face,
Eles dois duelando na avenida
Por esta vagabunda e torpe vida
Esgotaram o arsenal completamente. 
Escapei da chacina e virei crente
Sem prever que depois eu pecaria 

O pecado mortal da fantasia

Condenando-me ao breu eternamente.

 

Peço aos céus que me puna docemente,

Não com a pena imposta a Galileu,

Cientista do sol que descreveu

Lei dos corpos, punido cruelmente.

Se tivesse em verso complacente

Dito claro que a terra é quem se move,

Essa arte poética que socorre

O artista que dela tem domínio

Barraria o soturno vaticínio

Que das bulas papais, cruento, escorre.

 

No duelo de Deus e do Diabo

As esgrimas terçavam pura arte,

Indo e vindo em Vênus e em Marte

Com o Divino ganhando a guerra ao cabo.

Satanás empenhou até o rabo,

Mas perdeu por pobreza do seu verso,

Pela força da língua submerso,

Humilhado na estética divinal,

Imolado na pedra filosofal,

Sucumbiu com seu estro vil, perverso.

 

F. Mozart

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