FOTO MEMÓRIA – Eu na
praça da cachaça em Itabaiana, mexericando com meu colega ferroviário Cidó
Vasconcelos e ouvindo histórias do futebol da Paraíba contadas por Lula (in
memoriam), ex-goleiro do Botafogo-PB e o homem que levou o milésimo gol de
Pelé, mas foi apagado da história porque é paraibano.
Hoje é o Dia do
Maquinista de Trem. Através do maquinista Cidó eu presto minha reverência a
esses profissionais da velha estrada de ferro.
A
gente se mata todos os dias. De sustos, de vício, amor, desamor, doses
conta-gotas de suicídios não violentos. Poetas são mortos silenciosamente, sem
deixar sinais. Crime perfeito, sem glosa e sem suspeito.
Kaio
Bruno Dias poetizou que a gente morre todo dia por deixar de ser quem
gostaríamos, por não ter pernas pra ir àquele seu destino sonhado, por
silenciar nossas verdades e quando os vícios se tornam nossos melhores momentos.
Outro
poeta anônimo, Pedro Salomão, suplica: “se você me entende, por favor, me
explica!”.
Percebo
que, se matarem todos os poetas, a população mundial sofrerá um abalo
considerável. Todo bichinho de orelha se declara poeta.
Cito
outro poeta de blog, Sérgio Vaz: “Se todo mundo que fala que é, fosse, a gente
não estaria nesta fossa”. Poeta é um escritor que compõe poesia. Ou um
cronista, romancista, cujos escritos se encharcam de poesia.
Redigir poesia é um troço tão forte em alguns indivíduos
que é assim: escrever ou morrer. Muitos escrevem e morrem.
A escritora americana Sylvia Plath se suicidou em
1963, aos 30 anos. Outra americana, Virginia Woolf, a portuguesa Florbela
Espanca e a brasileira Ana Cristina Cesar se mataram.
O ofício de escrever tem a função de dar uma
arranjada no discernimento da pessoa que escreve, porém, corre-se o risco de
desatinar.
Há, entretanto, o poeta chato. Ele veste uma camisa
com a legenda “Poeta fulano de tal” e sai declamando seus versos, diria até que
impondo sua produção.
Conheço uma figura extravagante nessa linha. Vai ao
passeio toda manhã com seus poemas debaixo do braço. Em rigorosa abstinência de
senso do ridículo, detém a primeira pessoa que encontra e lê os tais poemas de
patas espedaçadas. Constrangedor ver as pessoas evitando dar de cara com o
vate.
A pessoa me chame de tudo que é ruim, mas não me
chame de vate!
Hoje o cronista incorpora a entidade Exu que atua sobre a dualidade do homem. E da mulher também, conforme Oxum, orixá das águas doces e das cachoeiras, deusa da união e da variedade.
À guisa de explicação, como se escrevia antigamente nos posfácios, o colunista sonhou reunir microcontos com historietas diversas, interligadas pela ideia central das energias opostas, o yin-yang chinês, forças antagônicas e complementares dando caldo a contos banais saídos de um mundo ácido.
As narrativas estão aí, situações da vida real pedindo para se adequar ao microconto. Só falta a competência.
As nossas vidinhas podem ser resumidas em apenas alguns contos pequenos. Nesse apanhado de contos resumidos, o contista desvigorado parte para alguns relatos reflexivos sobre as paisagens, as pessoas, o pandemônio e as desigualdades dessa João Pessoa multifacetada.
No muro do Zé Américo, poesia sem afetação salienta-se: “"A vida é uma dádiva, a vida é uma dúvida, a vida é uma dívida". Parece com Lau Siqueira, mas não tenho certeza.
Um olhar haikai sobre o nosso mundo imediato. Matéria-prima, mesmo, está é nas “camadas inferiores”, no proletariado periférico e cangaceiro.
Gente doida, com antipsicótico correndo nas veias, agindo no sistema nervoso central, controlando as neuras com coca e fumo. O isolamento dessas criaturas, com seus encontros com Deus e o Diabo.
João Pessoa poética e marginal, com seus cantores de rap e seus candidatos a forrozeiros fuleragem. E suas figuras fragmentadas e espatifadas pelas ruas do Valentina e Mangabeira.
Disso é fiel retrato a poética do rapper Cassiano Pedra: “deixei os meus pedaços pelas ruas / o SAMU recolhe as tripas sujas / ainda tenho a língua e a cabeça / o guarda quer matar as ditas cujas”.
Hoje estou meio que enfezado com minha solidão e meu anjo da guarda torto.
Casal de influencer evangélicos têm um Porsche em nome de Jesus. Eu tenho uma bicicleta Monark barra dupla circular em nome de Binbogami, deus da pobreza na cultura budista.
Enquanto isso, a polícia evangélica demoníaca de São Paulo, do Tarcísio do demônio, destruiu e roubou cannabis medicinal e a casa de terapia para autistas e outras pessoas que dependem desse tipo de tratamento.
A Associação Santa Gaia, alvo da operação, tinha autorização da Justiça Federal para produzir medicamentos e cultivar maconha para fins medicinais
Eu uso óleo de cannabis para aliviar minha artrose. Seria preso em um governo do Tarcísio de Fétidos.
Há 49 anos, elementos terroristas a serviço dos Estados Unidos, com explosivos fornecidos pela CIA, explodiram no ar um avião da Cubana de Aviação, matando seus 73 passageiros. Os autores confessos nunca foram julgados.
Milhões de pessoas tomaram as ruas em 50 estados e em mais de 2.800 cidades dos EUA, em protesto ao nazifascismo do Mister Laranja Podre.
Enquanto isso, Dudu Bananinha implorava para o Laranja Podre cuspir nele e no neto do ditador Batista.
“Estados Unidos mergulham no niilismo imperial e só oferecem guerras eternas ao mundo, diz Pepe Escobar”. (Brasil 247)
Rede Golpe de Televisão prepara esquema para desgastar Lula, favorito para 2026.
Fiquei sabendo que o italiano Salvatore Garau vendeu “arte invisível” por 87 mil euros. É uma escultura que só ele vê. A obra só existe na imaginação do comprador.
No filme do Hugo Carvana, "Bar Esperança", um artista faz uma exposição só com telas em branco.
Conheço pessoas que compram títulos de nobreza. Absolutamente tudo se vende e se compra nesse mundo maluco.
Só não se compra votos. Isso, não!
E com essa eu já me
vou-me a mim, como diria Tião Lucena. Dedicando esses tijolinhos ao nosso
brother Jairo Araruna, neste 20 de outubro, dia do poeta, e para o colega
ferroviário Vasconcelos Cidó, no dia do maquinista ferroviário.
VERSO DO DIA
É difícil que aconteça
Dor de cabeça ele ter
Pode a dor aparecer
Mas não encontra cabeça.
(Grafite de rua)
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