terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Somos todos babacas

Querer ser um babaca especial é o cúmulo da pretensão. Somos todos babacas, e fim. Acredita não? É porque você não se olha no espelho da sinceridade com você mesmo. Mas a realidade, por mais cruel que pareça, é que somos babacas na maior parte do tempo, e alguns são babacas em tempo integral.  

Pensando assim, passa a ter sentido a sincera “agressão” daquela minha amiga, que me chamou de babaca porque contei alguns lances de minha vida, considerados pequenos crimes tipo pagar propina ao guarda, essas coisinhas do cotidiano canalha de todos nós. Foi num programa de rádio de fundo de quintal, eu e mais alguns babacas, onde se falava de corrupção. Em dado momento, eu provoquei: “vocês falam tanto na corrupção alheia, teremos coragem de admitir nossos pecados?” Teve até furto desqualificado. Ao fim, revelou-se o que já se suspeitava: nós, brasileiros, praticamos a desobediência civil não sistematizada quase todo santo dia. Até rabisquei um haicai:

Atentai, ó crente:
bendita ou não, a corrupção
é fruto do vosso ventre.

Mas, o que eu quero falar mesmo é do babaca, a forma rotineira de como somos imbecis. Por ser práxis, nem notamos. Ontem fui visitar um professor de alto gabarito intelectual e forte prestígio na sociedade paraibana. O homem demonstrou o que sempre foi: um sujeito educado, gentil e muito solícito para com as visitas. Na audiência, me chamou a atenção o modo como trata os subordinados. É clássico na nossa cultura. Os de cima ainda se sentem na sala da Casa Grande, tendo ao redor as mucamas e serviçais para suas necessidades imediatas. De preferência, sendo tratados de forma humilhante e desrespeitosa. Um babaca de outro tipo. Por essas e outras, defendo a tese de que somos todos babacas, mesmo os que se acham a fina flor da humanidade. Principalmente essas figuras.

Ao fim e ao cabo (gosto dessa expressão, apesar de achar meio babaca), não conseguimos nosso intento com a tal autoridade. Por outro lado, lancei um olhar crítico à tendência de me achar um fodão, que é aquele tipo de babaca que pensa: “por que a humanidade não se ajoelha aos meus pés pelo simples fato de eu existir?” Gramsci ensinou: “não se pode chegar à vitória final através de uma sucessão de derrotas parciais.” Perdi essa batalha, mas, ao longo prazo, a vitória será dos germes que hão de comer minhas vísceras. Em todo caso, ainda continuo emocionalmente cheio de energia para dar meus pinotes e me envolver emocionante com projetos que, à luz da realidade aparente, são meras babaquices.


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