quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Pé sujo e bunda de fora



Sou membro da confraria dos amigos e frequentadores de “pés-sujos”, os botecos maravilhosos e suas figuras ímpares. Tem até um blog dedicado a esses barzinhos. É o www.meupesujo.blogspot.com

Em Jaguaribe, João Pessoa, você tem o bar de Zé. Aliás, existem dois bares de Zé, sendo que um tem o nome na porta e o outro é anônimo. Mas seu dono também se chama Zé, que na Paraíba já viu: quem não é Zé, daqui não é. Sou sócio de carteirinha do bar de Zé que não tem cartaz. É lá que ouço pérolas como “só não tomo acetona porque tira o esmalte dos dentes”, ou “só bebo socialmente até cair”. Mais: "Cerveja e cachaça são os piores inimigos do homem. Mas homem que foge dos inimigos é um covarde"; "De tudo que ganhei na vida, 90% eu bebi, 10% dei pro garçom".

O dono do bar gosta de frases como "Bendito sejam os chatos, pela imensa alegria que nos dão, no exato momento em que se vão", ou "Para não haver transtorno aqui neste barracão, só vendo fiado a corno, filho da puta e ladrão".

É nesse ambiente de descontração e amizade que a gente conhece personagens iguais a Trindade, esse crioulo aí da foto, no lado direito do balcão de Zé. O velho Trindade morreu de câncer no pulmão, deixando uma legião de amigos. Era um homem educado, nunca pronunciou um palavrão na vida! Francisco Trindade de Luna trabalhava como gráfico na União Editora e funcionário da antiga Ancar, hoje Emater. Gostava de pimenta, virou especialista nessas bichinhas ardidas, fazia como ninguém um molho apimentado, famoso no bar de Zé e adjacências. Começou a beber depois de velho. Não comprava cigarros, que preferia filar dos amigos. Muito católico, foi da Ordem Franciscana Estrela do Mar na Igreja do Rosário. Jogou no Filipéia, antigo time amador de João Pessoa. Sabia fazer um camarão no coco sem camarão! Usava mamão verde na preparação do prato, que era uma delícia!

Hoje quem assume seu lugar no Bar de Zé é seu filho Maninho, gente boa também, sujeito simpático. Mora em apartamento sobreloja do bar de Zé, portanto reside praticamente dentro do bar. Já faz parte da paisagem. Maninho fora do bar é como tirar a freezer ou o balcão: fica faltando um objeto fundamental.

Não é só homem que gosta de boteco, mulher também. Lá em Zé, a figura de Mabel, enfermeira da Maternidade Cândida Vargas, é emblemática, representando a mulherada que gosta de bebericar nos “pés-sujos” da vida. Os marmanjos a têm como uma pessoa do time, já incorporada à fauna local. Verinha é outra companheirinha que bate ponto no Zé.

“Pé sujo” é isso: um lugar onde você encontra uma boa branquinha, uma cerveja gelada, gente simpática e comida suspeita. Sim, para esclarecer: “bunda de fora” é o barzinho pequeno, onde não cabem os frequentadores que ficam pela calçada mesmo, tomando suas biritas.

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