segunda-feira, 1 de junho de 2015

O tabacudo, esse desconhecido


O cronista pernambucano Samarone Lima escreveu o pequeno tratado do grande tabacudo. Ele diz que todo mundo tem um amigo ou conhecido, autêntico tabacudo. “O tabacudo é uma figura que poderia ser estudada pela sociologia, filosofia, antropologia, endoscopia, fotografia etc”, diz Samarone. Mas, o que é um tabacudo, onde vive, como se reproduz?

Amiga minha declarou que eu vivo no mundo do faz de conta. Oscilei entre o abatimento e aceitação. Terminei por concordar. Três horas da madrugada, refletindo sobre esse meu hábito de arar concreto, quebrar moinhos e aguar flores de plástico, fiz um poeminha e cheguei à conclusão de que sou mesmo um tabacudo.

Tabacudo é uma pessoa com grande interesse por projetos sem futuro e empenhados em bater a cara na parede pensando que vai salvar o mundo, quando na realidade o mundo inteiro está escarnecendo dele. No pensar de Samarone, o verdadeiro tabacudo é o sujeito abilolado, leso, abestalhado e donzelo. O dicionário informal ensina que tabacudo é a pessoa otária, sem noção das coisas, babaca, imbecil. Existe, entretanto, diferença entre o retardado igual a Sonsinho e o tabacudo. O retardado tem problemas neurológicos que o impedem de ver com clareza a realidade. O tabacudo distorce as coisas, transforma o real em um mundo do faz de conta, igualzinho como aquela minha amiga me vê.

É claro que me declaro, irresistivelmente, devaneador e utópico. Tem alguma coisa de poético nessas vidas assim abiloladas e sem muita ancoragem no mundo real. Por isso não dou certo nos negócios e nos podres poderes, mas me considero um tabacudo em busca de uma sociedade que não existe e talvez nunca será realidade. Gosto de ser assim, por isso me nego a perder essa delicadeza com que os idealistas tratam seu comprometimento com a humanidade. Portanto, declaro e conclamo que vivo mesmo no mundo do faz de contas, mas esse tipo de gente é necessária para esse mundão falido.

Quer uma prova? Geralmente, esse povo tabacudo é quem faz o chamado Terceiro Setor, que, com pouquíssimo dinheiro e doação de trabalho voluntário, está resolvendo os problemas que o governo e sua crônica ineficiência e desinteresse não consegue solucionar.

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