sexta-feira, 25 de abril de 2014

Estou vendendo meu carro velho


Abandonarei a vida de motorista, passando para a prática generosa e solidária de pedalar minha bike porque o ritmo da juventude é acelerado e estou entrando na faixa dos sessenta, hora de dar um breque e ir devagar.

Há quem me ache um idiota, outros aplaudem minha atitude. Não se pode legislar sobre esse tipo de coisa e cada um tem seu projeto de vida, com direito a achar que é o máximo. Trata-se de algo subjetivo. O combustível pela hora da morte, o trânsito neurótico e eu não tenho essa vaidade tola de ostentar patrimônio através de um automóvel. Vou parar de acelerar e andar só nas duas rodas, mesmo sem ciclovia que me ajude nem respeito da maioria dos emboladores de quatro rodas.

Para quem quiser comprar meu bodinho GOL 2001, é meu dever já saudoso informar que o dito cujo é o mais econômico da praça, fazendo até 14 quilômetro na buraqueira da cidade, sem atentar a problemas tais como pintura velha e desbotada, pneus com fortes sinais de calvície, amortecedores vencidos e uma tossezinha suspeita no motor de mil cilindradas. Costumava manter em dia a manutenção do meu bodinho, mas parei faz décadas. Aliás, tudo faz décadas depois que você entra no túnel tenebroso da terceira idade.

Um certo espírito de porco aconselhou vender para um desmanche, mas não quero ter problemas futuros. Meu compadre Jacinto Moreno vendeu seu possante Voyage 1980 sem dar baixa na documentação nem quitar IPVA, multas e licenciamento, porque o valor do carro não passava de 500 pratas, não compensava. Resultado: o comprador bateu no poste com o carro, acabou o restante da máquina e nem pagou a compra. Jacinto ainda hoje deve ao Detran. O Voyage dorme o sono dos justos no cemitério de automóveis do departamento de trânsito.

O preço, a gente entra num acordo. O carro está comigo no valor de 12 mil reais há mais de oito anos. Como é que eu vou calcular sua depreciação, se ele só me deu conforto e rapidez nesses anos todos, deduzidos alguns percalços naturais no mundo mecânico? Acostumei a ser um dependente de automóvel, uma cultura que produz gente histérica e de baixo nível de solidariedade. Leva-se um certo tempo para se livrar dessa estupidez.




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