quarta-feira, 22 de maio de 2013

Bois de carnaval só querem sair no carnaval


Boi de carnaval se recusa a sair fora da época.


Vocês vejam o que é a força da tradição: os bois de carnaval e blocos de caboclinhos reclamam da falta de apoio e dos desrespeito com que são tratados no carnaval de Itabaiana, com os carros de som chamados paredões azucrinando todo mundo e impedindo a livre manifestação dos blocos tradicionais. Agora, o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar promove um festival de boi que foi adiado por falta de... bois!

Numa cidade onde dormem mais de 30 bois, apenas dois bois se inscreveram, inviabilizando o “1º Cortejo de Bois de Carnaval” fora de época na cidade. Através do Fundo de Incentivo à Cultura (FIC), o Governo já garantiu recursos para adereços e fantasias dos bois, além de diárias para um oficineiro que ministrará curso de Boi de Reis e produção de um DVD que será distribuído com os participantes, mostrando a festa, a oficina e os brincantes, com suas cantigas e suas histórias.

Diante da escassez de bois, estamos apelando para os bois vizinhos, nas cidades de São José dos Ramos, Pilar e Salgado de São Félix. Em Pilar, é famoso o Boi de Nair, que já garantiu presença.

Há várias versões sobre a origem do auto do boi. Nosso compadre Edglês Gonçalves, o Gonchá, garante que, assim como a burrinha, o boi foi desgarrado do Boi de Reis, brincadeira que tem 78 personagens, esse teatro popular que estamos querendo resgatar com a oficina no Ponto de Cultura, a cargo do mestre Charles.

No enredo do boi, consta que Catirina desejou comer a língua do boi, por estar grávida. Seu marido, o Mateus, matou o bicho. O patrão soube da morte do bovino e mandou capar o pobre Mateus que recorreu a orações fortes e ressuscitou o animal de estimação do fazendeiro. No nosso caso, o boi está mortinho da silva. Vamos ressuscitar essa cachorro da mulesta pra sair fora de época.

E sabe por que queremos mudar a hora do boi sair? Porque aqui é uma escola de desajustados, de rebeldes, criadores de causos e casos, os famosos “pinos redondos nos buracos quadrados” de que fala o Jack Kerouac, escritor maldito americano. Para ele, os que não se conformam com o estabelecido, os que forçam as mudanças são vistos como loucos, mas “as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são as que o mudam”.

Jamais alguém viu boi de carnaval na rua em Itabaiana, fora da época carnavalesca. Também se dizia que era mais fácil um boi voar do que Maurício de Nassau terminar a ponte do Rio Capibaribe em Recife. Pois o boi voou.

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