terça-feira, 30 de abril de 2013

Adeildo Vieira voltou a Itabaiana para contemplar seu rio e se emocionar com as novas gerações de conterrâneos


Esse é o rio Paraíba, tendo na sua margem esquerda a cidade Itabaiana do Norte. 

"Quem tem acompanhado esta minha coluna há de se perguntar o porquê de eu falar tanto de minha infância, evocando as cenas da cidade onde nasci e exaltando os personagens que alicerçaram minh’alma pra suportar o peso da própria existência. Quem lê minhas memórias aqui nem imagina que essa infância foi vivenciada mais no quintal de casa do que no leito caudaloso das ruas e que minhas relações se dariam exclusivamente no âmbito familiar, não fosse a saudável convivência com os amigos de sala de aula, onde eu mergulhava nos açudes profundos do conhecimento. Santo quintal, santas escolas primeiras!...

Saído aos catorze anos de Itabaiana, eu viria participar, nos anos seguintes, de banquetes com a carne do bairro de Jaguaribe, em João Pessoa, já que a vida me reservava moradia justo em frente da casa de Pedro Osmar e Paulo Ró. Jaguaribe é o ponto geodésico de minhas ações culturais, de onde eu parti pra desbravar o mundo.

Mas acontece que o Vale do Rio Paraíba ficou tatuado na memória, certamente porque nenhuma infância passa impune em uma existência.

Trinta e seis anos depois de sair do calor daquelas ruas e de contemplar o furor das águas das enchentes daquele rio, eu fui convidado por um grupo de jovens cineastas paraibanos, egressos do curso de Comunicação Social da UFPB, para ministrar umas aulas de trilha sonora para audiovisual. De repente, estava eu, nesta última segunda-feira, de frente para adolescentes de raro talento e um brilho nos olhos que há muito eu não via.

O mais emocionante é que a maioria tinha a mesma idade com a qual eu deixei a cidade. Tinha ali a oportunidade cultural que sempre nos foi negada e que, em via de regra, é o que faz com que os moradores daquele lugar sigam as águas do rio, desaguando nos mares da capital.

Este feliz convite me foi feito pelos organizadores do projeto Paraíba Cine Senhor, que tem conseguido plantar a semente da inquietação no coração de jovens que se dão ao plantio para o conhecimento artístico e cultural. É um trabalho de formação de extrema qualidade levado aos moradores de várias cidades do interior da Paraíba.

As oficinas oferecidas abrangem as mais importantes áreas da produção audiovisual, desde noções de câmera até ética profissional e direito autoral, sempre envolvendo realizadores que já brilham no cenário paraibano e nacional. Falar de cinema na terra de Vladimir Carvalho é algo não só simbólico, mas que renova as esperanças para a construção de novos realizadores que venham honrar o cinema brasileiro. E se fez nítida a presença de embriões de cineastas naquelas turmas.

Pra mim, que tracei em Itabaiana o roteiro do filme da minha vida, foi animador saber que a militância musical me levou aos caminhos do cinema, justo ali onde meu pai viveu comigo o epílogo de sua história.

Não bastasse esta realização pra minha vida cultural, os meus amigos do projeto Paraíba Cine Senhor produziram ainda uma homenagem pra mim que justifica todas as ações que vivi como militante da vida nos braços da poesia e nos laços com meu instrumento. Já fui homenageado na terra cujo rio batizou meus pés estradeiros. Mas desta vez pude fazer uma revisitação alvissareira à minha infância através dos olhares daqueles adolescentes. E isto, pra mim, é consagração.

O sucesso que persigo é aquele que me aproxima das pessoas e as faz pulsar dentro do meu coração. No caso, meu coração Itabaiana. Obrigado aos talentosos amigos cinesenhores, que demonstraram entender a grandeza da vida!"

Adeildo Vieira



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