quinta-feira, 7 de março de 2013

FATOS PITORESCOS DO FUTEBOL



Vila Nova dos bons tempos. Jaime é o quarto, em pé, da esquerda para a direita.

NEGO JAIME (1)

No idos de 1960, apareceu em Itabaiana um rapaz alto, bem afeiçoado, funcionário da Campanha de Erradicação da Malária, chefe dos mata-mosquitos da Sucan. Era o Jaime, excelente volante que foi levado para treinar no Vila Nova, onde passou a ser o melhor jogador, técnico real (o “técnico” Levi só distribuía as camisas) e líder do time.

NEGO JAIME (2)

Nego Jaime, como passou a ser carinhosamente conhecido, tinha um problema: não poderia disputar o campeonato de amadores de Itabaiana porque era profissional de futebol, com passagem pelo Santos de Tererê (João Pessoa) e pelo Treze de Campina Grande. Foi então que a Liga Itabaianense de Desportos arrumou um jeito: o campeonato passou a ser misto, tendo cada clube o direito de inscrever dois atletas profissionais. Foi o primeiro e único campeonato misto da cidade, tendo o Vila Nova se sagrado campeão.  Nessa época eu era Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva e tive que acatar o casuísmo em nome do bom futebol.

NEGO JAIME (3)

Por ser inscrito em dois times profissionais, Nego Jaime foi punido pela Confederação Brasileira de Futebol. Não poderia jogar profissionalmente por cinco anos. Segundo informa Valdo do Correio, o próprio presidente da República, Juscelino Kubitschek, foi quem anistiou o atleta.

KUBITSCHEK

Valdo foi fazer uma prova para entrar na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Mandaram redigir uma carta ao Presidente. Sem medo de ser reprovado, ele perguntou ao gerente como se escrevia o nome do Presidente Juscelino Kubitschek. “Não se preocupe, vai ser bem avaliado pela coragem de perguntar. Todos os outros candidatos não perguntam e escrevem errado o nome do Presidente”, disse o funcionário.

A CAFETINA

Os jogadores do Vila Nova formaram um time de futebol de salão que fez história: o Tic Tac. Depois dos treinos, a turma levava um litro de rum para tomar debaixo da ponte do rio Paraíba, acompanhados de umas três ou quatro prostitutas arrumadas por Nega Buliu, famosa cafetina.

ARARIUM

Ararium era um forte e caceteiro lateral esquerdo defensor do Vila Nova. Batia até no vento, conforme se dizia na época. Jogo amistoso entre o Treze e Vila. Miruca, ponta-direita que jogou no São Paulo, procurou o lateral direito do Vila Nova, Valdo do Correio, no intervalo: “Valdo, tem um assassino jogando na lateral esquerda do teu time, vou jogar agora na ponta-esquerda pra ver se escapo”.

PEDINDO ARREGLO

Neste mesmo jogo, Valdo marcava o veloz ponteiro Lima, do Treze. No intervalo, Valdo pediu arreglo: “Lima, não corre tanto assim não porque senão tu me mata!”

O BOATO

Assim era conhecido um espaço de debate da torcida do União que existia em Itabaiana, em frente à loja de Pedro Sérvulo, no centro da cidade. Todos os dias reuniam-se torcedores e atletas para discutir futebol até altas horas da noite. Os mais assíduos: Israelzinho, Aracílio Araújo, o Munganga, João Cavalcante, Brão tipógrafo, Arnaud Costa, Edmilson Batista,  Índio, Dolfo, Toinho de Tibúrcio e outros membros da torcida do União. O único do Vila Nova que ainda se arriscava naquele espaço inimigo era Valdo do Correio.

RIVALIDADE NA SELEÇÃO

Edmilson Batista Nascimento e Arnaud Costa comandavam a seleção de Itabaiana em torneio de seleções promovido pela Federação Paraibana de Futebol. Eu e Edmilson éramos torcedores do União. Convocamos alguns atletas do rival Vila Nova, os quais receberam ordem expressa de Zé Tavares, dono do time: “Nenhum atleta do Vila bate pênalti. Se perder, vão dizer que sabotamos a seleção”. 

RIVALIDADE NA SELEÇÃO (2)

Jogo entre as seleções de Itabaiana e Santa Rita. Pênalti a favor dos nossos. Desobedecendo à ordem do chefe, Clécio Falcão se apresentou para bater a penalidade máxima. Perdeu o pênalti, para desgosto de Zé Tavares: “é um imbecil!”

PROFECIA

O futebol de minha terra viveu sua época de ouro enquanto existia a rivalidade entre o Vila Nova e União. A paixão clubística no interior é uma chave para se entender a cultura matuta. Em Itabaiana, na véspera de jogo entre os dois times, prevalecia a guerra de nervos entre torcedores, atletas e dirigentes. Mobilizava a comunidade inteira. Um dia, Nego Jaime profetizou: “quando o União se acabar, se acaba o Vila Nova”. Dito e feito: hoje, só restam lembranças daqueles tempos de glória do nosso futebol amador.

VOZ DE PRISÃO

Essa quem me contou foi Dagoberto de Linda. O sargento da Polícia Militar Clemir Claudino era delegado em Mari. Nas horas vagas, jogava como zagueiro pelo Coritiba Futebol Clube. Em um jogo duro contra o Botafogo do Cabaré, o centro-avante aplicou uma canelada no sargento que imediatamente deu voz de prisão ao atrevido atleta. “Saia de campo e vá direto se apresentar ao carcereiro na cadeia, e ai de você se não cumprir minha ordem”, determinou o delegado.

(Do livro “Fatos pitorescos do futebol”, de Arnaud Costa)





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