segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A última crônica do ano





Neste blogue não falo de assuntos privados. Se falasse, diria que tomei uma atitude para 2013: vou repetir a agenda. Explico: usarei a mesma agenda de 2012, percorrendo os mesmos dias, revendo as anotações, os compromissos, aniversários de amigos, pseudos vitórias e derrotas, ganhos e perdas, contas a pagar e compromissos. 

Talvez seja este o último dia da criação. Temos que provar por A mais B, o que mesmo? “Você está preparado pra morrer?”, perguntou o Testemunha de Jeová na manhã ensolarada e materialista. Devido a causas misteriosas e não ao subdesenvolvimento, milhares de crianças estão morrendo neste último dia do ano, e eu só quero saber do que pode dar certo. Num clima de angústia e embuste, milhões fingirão alegria e comemorarão a passagem do ano. Não vou abafar minha sensação de culpa, porque culpa temos no cartório. Minha agenda mostra anotações de muitos erros, alguns acertos. Vou repetir a agenda para não repetir os erros, as hipocrisias. Acha que vai dar certo? Eu penso que não. Porém, querendo ou não, temos que continuar, no erro ou no acerto. 

A verdade gritante: “Todo mundo sabe que nada vai mudar! A política é a mesma, o poder é o mesmo, a polícia é a mesma, a mentira é a mesma, a traição é a mesma, a putaria é a mesma! 2013 é apenas mais uma brincadeira capitalista” – Pedro Osmar. 

Na última crônica do ano, anotar que homens astutos e mulheres mecânicas estão planejando seus podres projetos.  Lá no fundo, uma voz grita que não estamos completamente perdidos. Somos todos amadores, sem planejamento sofisticado. Melhor seguir o trajeto anterior, remarcar a agenda, para continuar sendo a fina flor da ética e do saber na sociedade, sem o perigo de marcar novidades numa folhinha nova. Refazer a vida, trilhar os mesmos caminhos, apagar as anotações chocantes, na nossa missão de vermes insignificantes que somos. 
Também lembrar de rasgar os pedacinhos de papel, jogar no lixo uma partícula de bosta, alguns pedaços de miolos de cérebro, sinal de vida coagulada, um riso partido, um santinho, um talo de capim, uma pena de pavão, uma prece, uma conta a quitar, um chiclete, uns fios de cabelo, uma asa de inseto não identificado, uma foto do amigo que morreu e um fio de pensamento à procura de Deus.

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