Eu, com a desenvoltura de um Kid Preto numa aula de democracia, lancei meu folheto “Raízes da cura – Neves Oliveira e o legado da fitoterapia ancestral”, sobre o curta metragem do mesmo nome, produzido por Dalmo Oliveira. Foi na Fundação Casa de José Américo, nesta quinta-feira, 28, onde se deu o avant-première do filme. Devo dizer que estava pouco à vontade porque sempre acho que passo ridículo ao me apresentar em público. Sofro de fobia social.
O filme correspondeu às expectativas. O meu cordel também foi recebido com misericórdia e alguns louvores. Tomei o chá verde da Tia Neves e botei um pano na frente do espelho para Dalmo tomar seu uísque. Ele não gosta de se ver enquanto bebe. Depois do primeiro gole, prometeu continuar sua nova vida de cineasta, assessorado pelo web designer Sérgio Ricardo de Todos os Santos. Quem fez a coprodução foi Jonathan Dias, um rapaz que vale o quanto pesa em talento. O palestrante foi o ator e influenciador das baratas Edilson Dias, que conseguiu mais uma vez irritar a plateia e ser original. Parabéns aos envolvidos! Em dado momento, uma senhora pediu: “Edilson, não me torture, por favor! Já sou tão infeliz!”. No que Dias retrucou: “gosto de fazer a plateia sofrer. Já fui plateia e também já padeci”.
Na animação, o showman Merlanio Maia, autointitulado Senhor Cordel. Ele pratica os princípios nos quais acredita. Faz arte genuína e ajuda a humanidade. Eu admiro gente assim, que reflete nas suas vidas suas concepções de mundo. Vejam o caso do senhor ex-presidente Jair. Toda vez que ele tenta praticar aquilo em que acredita, vem a Lei e impede. Se bem que não tenho certeza de que se apropriar de bens públicos, usar a máquina pública em seu favor, cogitar matar adversários políticos e tentar estuprar a Constituição sejam realmente convicções de gente normal.
Voltando ao filme da Tia Neves, acorreu ao evento um bocado de gente de sua geração em Guarabira, companheiros e companheiras de sua jornada no mundo da religiosidade em contextos médico-populares, sob a liderança do Bispo Dom Marcelo Pinto Carvalheira, sempre lembrado com saudade e respeito. Na Igreja de Guarabira, Neves começou a difundir suas terapias com remédios do mato, a dimensionar o papel das plantas medicinais nos conjuntos ritualísticos de cura. Entre essas pessoas, tive o contentamento, junto com a surpresa, de rever professor Mendes, meu mestre em Itabaiana nos anos 70. No filme, depoimentos de pessoas como a professora Margareth Diniz, reconhecendo o discernimento de Tia Neves, fundamentado no saber empírico acumulado, saberes firmados em ideais e valores inspirados pelo consciente coletivo.
No final, uma mesa de frios com tomate recheado, cuscuz de banana, farofa de soja, grão-de-bico, torta de brócolis, farofa de soja e bolo de macaxeira com suco de abacaxi com hortelã, maracujá, melancia e cajá. Fui servido de suco verde para desintoxicar e não esquecer minhas altas taxas. E para acalmar os nervos, ter tranquilidade quando as pessoas me acham insuportável, manter o autocontrole e relevar aborrecimentos provenientes de minhas impertinências. Por exemplo, o poeta Zuma Nunes, senhor amável e atencioso, me indagou: “Como vão as coisas?” “As coisas vão”, respondi no modo neutral.
Como epílogo do meu folheto sobre o filme de Tia Neves, arrematei assim:
O filme tem como tema
A figura de uma tia,
Tia Neves Oliveira
Repleta de sinergia,
Conhecedora das plantas
E da fitoterapia.
Filha de Alagoa Grande,
Na encosta da Borborema
No Brejo da Paraíba
Em meio ao ecossistema,
O saber tradicional
Foi da sua vida o tema.
Agradeço a atenção
Por fim, prezado leitor.
Eu sou o Fábio Mozart
Sempre ao inteiro dispor,
Com cotação no mercado
Pelo correto lavor,
Criando literatura
De xarope milagreiro.
Levanto um brinde do chá
Da rama do cajueiro.
Salve a fitoterapia!
Viva o cordel brasileiro!
Da esquerda para a direita: Quelyno Sousa, Fábio Mozart, Félix Di Lascio e Thiago Alves, velhos parceiros de produções culturais