sexta-feira, 28 de abril de 2023

terça-feira, 25 de abril de 2023

terça-feira, 18 de abril de 2023

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Solidão de celular



Meu smartphone quebrou, atendendo a um desejo secreto deste velho cidadão analógico, remanescente da arcaica era dos sinais elétricos contínuos. Um citadino inadaptado para a vivência na realidade dos sinais digitais, secretamente hostil aos valores traduzidos por código binário. O fato é que meu celular entrou em desarranjo. O elemento sem o apoio da linguagem da máquina, desprovido de celular, é um zumbi sem alma do código binário. Dependência digital tem até nome: nomofobia. Virou a cachaça moderna, a droga que causa estranha dependência. Sem estar conectado ao celular, o elemento apresenta sinais de delírio, isolamento e insânia. Inclui insônia. A tecnologia arrastou a criatura moderna para a compulsão de um bêbado, um “noia” eletrônico obcecado pela dependência digital.

No meu caso, este humilde, raro e maravilhoso homem do século vinte, voltei à cadernetinha de endereços e contatos, enquanto rondava pelas lojinhas de técnicos de celular à procura de uma peça raríssima para meu aparelho ainda mais insólito. Trata-se de uma geringonça criada por uma empresa indiana, muito simples e vagabundo, mas barato. E o que é barato neste mundo da exploração globalizada não se cria. Enfim, ninguém capaz de salvar meu telefone móvel. Sem condições de me manter conectado no vazio da internet móvel, voltei à leitura de livros físicos, hábito que já estava fora da rotina. O problema do celular seguia aberto e quase insolúvel. Comprar um novo estava fora do orçamento. É assombroso, mas eu tenho outras prioridades de consumo. Milho moído, por exemplo. O famoso fubá. Sou do estranho tipo que prefere comer cuscuz a usar o celular. Conscientemente ou não, andei perambulando pelas ruas do centro à procura de um orelhão que casasse com minha cadernetinha de anotações de telefones, contatos antigos não mais permitidos pela nova narrativa da comunicação humana. Deu-me angústia de ter sido uma pessoa do tempo dos orelhões e até do telefone de veio. Não confundir com “telefone de velho”. Sim, eu fui operador em uma central telefônica na estrada de ferro, cujos sinais elétricos eram gerados por uma manivela.


Caiu-me à mão o livro “Alta fidelidade”, do inglês Nick Hornby. Nele pesquei a citação: “Não tenho amigos, e sim pessoas cujos números de telefones eu não perdi”. De modo que quando consegui comprar um celular de segunda mão, transferido o chip, apagaram-se todos os contatos. Relacionamento via eletrônica continuava zero. Vi-me um sujeito sem amigos. Não se salvou nenhum. Onde andas, camarada? Eu te mandei o sinal e não recebeste. Que sinal? O da minha ausência. Fiquei quase uma semana sem ligar e você não notou meu eclipse eletrônico. E você, minha amiga de tão longas e analógicas datas, por que não veio me ver, saber se estou vivo? Que foi que nos aconteceu? Desaprendemos a nos visitar?


Não rola mais segredos de liquidificador, sentença poética de Cazuza. Hoje em dia a gente pode escutar os segredos das pessoas, ditas no celular. Tem um aplicativo chamado Ear Spy que permite ouvir conversas ao redor, utilizando os fones de ouvido de dispositivos iOS e Android. Grava-se conversa de presidente da República, ouve-se segredos de alcova e outras desgraceiras deste mundo da comunicação total e calamitosa. Eu com minhas duas cabeças, uma cabeça analógica e outra digital, vou seguindo meu caminho, desamparado pelas novas e excludentes tecnologias, agarrado como velho náufrago aos cacos das interlocuções obsoletas.


Enfim, comecei a receber ligações dos contatos no celular. À medida que chegam as chamadas, salva-se automaticamente o número. Revitalizou-se minha caixa de contatos. Entre alianças e parcerias, companheirismos e vínculos antigos, aquela conexão afetiva e única que começou nos anos setenta com um bilhetinho “gamado”, como se dizia na época. Enfim, a troca de celular filtrou as amizades. Restaurada, a caixa de contatos ficou com apenas dez por cento dos números anteriores. Só que a tecnologia moderna não sanou aquele velho problema das linhas cruzadas. Ao ligar para um número, uma terceira pessoa diferente atende. Linha cruzada. Liguei para a sessão de “retidão cívica”, atendeu o mestre da velhacaria Valdemar Costa Neto. Ao chamar o número da “tolerância e compaixão cristã”, respondeu o pastor Silas Malafaia. Deve ser algum problema de configuração do celular.


10 MINUTOS NO CONFESSIONÁRIO - 102

 


Você se acha uma pessoa de princípio?

10 MINUTOS NO CONFESSIONÁRIO - Episódio 102

https://diariopb.com.br/voce-se-acha-uma-pessoa-de-principio-dez-minutos-episodio-102/

sábado, 15 de abril de 2023

Literatura de cordel tem lançamento em Solânea

 

Fábio Mozart apresentando folheto e livro na "Sexta das Artes"

Tiago Salvador e Fábio Mozart

O Binário Café foi palco de um evento cultural da Academia Solanense de Letras nesta sexta-feira (14). Os acadêmicos reuniram-se para a primeira edição do projeto “Sexta das Artes”, com roda de conversas, música, declamação e lançamento do folheto “Romance do pato misterioso”, do acadêmico cordelista Fábio Mozart. A obra referencia os cem anos da primeira edição do icônico e histórico folheto “O romance do Pavão Misterioso”, de José Camelo de Melo, e traz as principais temáticas abordadas pela modalidade literária, recentemente incluída como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Na ocasião, Mozart ainda apresentou “Meu livro é um fracasso de vendas”, ganhador do Prêmio Literário José Lins do Rego da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, em 2022.

O autor, Fábio Mozart, é pernambucano de nascimento, tendo adotado a Paraíba como sua terra afetiva, principalmente Itabaiana, onde viveu por mais de 30 anos. Morando atualmente em Bananeiras, o cordelista é membro da Academia Solanense de Letras e presidente da Academia de Cordel do Vale do Paraíba.

O evento em Solânea contou com artistas da Academia e foi prestigiado também pelo ator e dramaturgo Tiago Salvador, Diretor de Cultura da Prefeitura de Solânea, líder da Companhia Artística Fascinart. O Presidente da Academia, escritor Wolhfagon Costa, agradeceu aos presentes pela agradável noite, abrilhantada pelo musicista Kelson Kizz e outros artistas, a exemplo do poeta Chicco Mello que lançou seu livro “Versos plurais”.  

 

sexta-feira, 14 de abril de 2023

quarta-feira, 12 de abril de 2023

terça-feira, 4 de abril de 2023