A MALA MOSCOVITA
Na submersão da noite, eu não
consigo mais dormir direito,
sonhando sonhos impossíveis
como a mecânica de sair da mala,
trancado por fora.
É um desafio inquietante no ermo
de minhas madrugadas insones.
Meus arquivos mentais rolam
morosamente,
sem entender o sentido da mala,
da morte, da vida.
Mundo de pequenos encantamentos,
a mala moscovita foi elevada à
categoria de símbolo,
não de uma carreira de
ilusionista,
mas de minhas frustrações
pessoais.
Fora da mala sei que chorei
lágrimas doces,
acessei vagas lembranças
e uma saudade já esquecida,
expectativas de sonhos há muito
sepultados.
Velho sem amanhã, olho para a
mala,
olhos tensos, um brilho de
desafio que acaba logo.
O mistério da mala continua lá,
como a esfinge: “decifra-me ou te devorarei”.
Sentado na mala moscovita,
ouço murmúrios abafados saindo
pelas frestas da velha arca,
ruído de passos sussurrantes no
pequeno quarto escuro.
Então começo a medir a extensão
daquela preciosidade,
resolvido a não mais mexer nos
seus mistérios.
F. Mozart
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