Nasce a FENAMUSI no Rio de Janeiro
A cadeira da paciência espera a Paraíba
Adeildo Vieira
Há dois meses
o jovem músico paraibano George Glauber me convidava pra participar de um seminário promovido pelo Sindicato dos
Músicos Profissionais do Rio de Janeiro – SINDIMUSI/RJ, uma vez que tinha
recebido duas passagens da entidade para que a Paraíba se fizesse presente ao
evento. Era o 4º Seminário sobre a mulher na música brasileira, que veio
acontecer nos dias 23 e 24 de novembro na cidade dita maravilhosa. Esta edição
do seminário direcionou o foco à mulher negra, tendo como homenageada
Clementina de Jesus, a mais afrobrasileira de nossas artistas, uma rainha
coroada de África e Brasil, consagrada no timbre da sua voz e na força de sua
vida.
Enfim
chegamos, eu e George, àquele evento que se mostrou coerente, com posturas que
norteiam um sindicato comprometido com as lutas de seu tempo. No desenrolar do
seminário foram abordados temas transversais que promovem a formação do músico
como cidadão para melhor entender sua arte dentro do contexto social e político
no Brasil. Discutimos muito mais do que salário ou outros temas umbilicais da
categoria, assuntos, aliás, tradicionalmente abordados pelo espírito
corporativo dos sindicatos. Doze estados estavam representados no evento, a
Paraíba era a única representação não sindical, se fazendo presente como
observadora. Mas não fomos menos respeitados por esta condição, ao contrário,
acabamos nos tornando alvo de muita sedução sindical pra que engrossássemos as
tricheiras da luta, ativando nossa entidade representativa.
Mesmo como
observadores, acabamos participando de um momento histórico. Naquele evento, as
representações sindicais presentes fundaram a FENAMUSI – Federação dos Músicos
do Brasil, cujo objetivo é representar o conjunto dos trabalhadores de todos os
estados em suas lutas, inclusive junto ao Congresso Nacional. É que o
SINDIMUSI/RJ, existente desde 1907, deixou claro que sua tradição política
secular não supera o peso da união de todos os sindicatos que representam o
nosso país. A soma das demandas regionais dos trabalhadores da música e sua
luta cotidiana por dias melhores é o que interessa nessa luta histórica dos
músicos em busca de respeito em sua profissão. Com a Federação amplia-se o
processo de legalidade e legitimidade em nossa organização a nível nacional.
Voltamos pra
casa com um misto de alegria e angústia. Alegres por termos presenciado esse
momento histórico no avanço da organização dos músicos brasileiros. Angustiados
por saber o quanto ainda teremos que caminhar pra, pelo menos, tirar o nosso
sindicato do leito de morte. O nosso SINDIMUSI está em coma. E o que pode
tirá-lo do estado de letargia é a força da nossa angústia transformada em ações
políticas e jurídicas que gerem oxigênio e esperança. E tudo isso pode ser
feito com doçura, muito som e muita alegria. Mas isso sem perder a consciência
de que a luta é também dolorosa, tanto quanto necessária. É fazer isso ou ver tornarem-se
crônicas as doenças da nossa profissão.
A FENAMUSI
tem uma cadeira cheia de paciência à espera da Paraíba.
Nenhum comentário:
Postar um comentário