HAI-KAIS
NA MADRUGADA
A foice do lucro martela
as mãos revolucionárias
de Carlos Marighela
Que queiras ou não queiras
novas mãos empunharão
outras bandeiras
Jaz fuzilado
a esmo
quem amou o próximo
como a si mesmo
Viveu amanhecendo
morreu em plena aurora
anoiteceu vivendo
Verdemente
a frutinha se põe
em semente
Noite inteira em serenata
muriçoca bemol
carapanã sonata
Crime que não se arrola
matar a aula
o melhor da escola
Forçando a rima
criando clima
as luzes de Paris
me deixam tão febris!
A vida inteligente
escorre nos condutos
mansamente
Como um Narciso torto
quero estar belo e roxo
depois de morto
Um novo tempo despercebido
explode em nós
sem alarido
Numa dimensão sem porta
escrevo este poema nu
em letra morta
Não era hora ainda.
Por que o ser humano
sem cumprir-se, finda?
Pelas barbas de um rei assírio
como é vetusto o charme dessa rosa!
Como é antigo o cheiro desse lírio!
Acordar cedo
tecer a teia institucional
do nosso medo
Nos olhos teimosos
de quem foi embora
a luz inexistente
de uma tênue aurora
Nervosinho, aperreado
sem saber que, pelo tempo
será bostificado.
No Jacaré arrebol
músico aquático foi visto
roubando a cena ao sol
F. Mozart
Nenhum comentário:
Postar um comentário