O maluco beleza Raul Seixas andava perdido
pelos Estados Unidos quando conheceu John Lennon, o astro do The Beatles, e sua
mulher Yoko Ono. Em 1989, no programa do Jô Soares, Raul falou pela última vez
na televisão. O desaparecimento de Raul Seixas foi o fim, de certa maneira, de
um jeito distinto de se fazer rock no Brasil e de se viver a filosofia desse
estilo musical que surgiu nos Estados Unidos em 1940. “O rock and roll morreu
em 1959. Minha música é classificada por mim como raulseixismo e eu tou botando
água na fervura da panela do diabo pela última vez”, disse, já meio
destrambelhado pelo álcool e outras drogas, o cantor e compositor que marcou
época, considerado pai do rock brasileiro.
Acompanhado pela banda “Envergadura moral” e
reinventado pelo baiano e amigo Marcelo Nova, Raul cumpria a duras penas seus
últimos shows, até morrer em agosto daquele 1989. Na entrevista histórica, Raul
contou sobre seu contato com Lennon. “Ele me perguntou qual o nome de maior
destaque no Brasil, Eu, meio sem saber o que responder, tasquei: Café Filho”.
Esse Café foi o cara que substitui Getúlio Vargas por 14 meses quando o “pai
dos pobres” deu um tiro na cara. Em 1955, no ano em que nasci, Café Filho não
aguentou a pressão e se mandou. Foi substituído por Carlos Luz, então Presidente
da Câmara. O General Lott botou pra fora o Luz e indicou Nereu Ramos,
vice-presidente do Senado, para tomar conta da Presidência deste país
esculhambado e ditatorial.
Não sei se Raul lembrou do Café Filho por pura
galhofa ou porque admirava aquele político insignificante e fraco. O que sei é
que hoje eu vejo companheiros como o ex-marxista Dalmo da Silva se posicionar a
favor de Michel Temer e artistas do naipe de Vital Farias louvarem o golpista e
execrarem a galera da esquerda que foi apeada do poder pelo golpe político
judicial.
Raul é citado como um dos cem maiores artistas
da música brasileira. Foi expulso do país pelos militares por não se enquadrar
na ordem “moral e cívica” dos fardados. O vigor musical do maluco beleza continua
até hoje. Suas ideias, com o tempo, mostraram-se na linha dos 80% de bobagens
metidas a metafísicas e filosóficas. O resto é rock com aquele toque
existencial e muita originalidade. Seu LP Krig-ha
Bandolo!, de 1973, ainda hoje é considerado um dos cem maiores discos da
musicografia tupiniquim.
Hoje, faz falta o pensamento metamorfoseado desse baiano
encapetado. O que diria do golpe que derrubou a Presidenta Dilma? Como se
posicionaria diante do lixo musical que se produz hoje? Eu, particularmente, gosto
de sua pegada anarquista. “Todos os partidos são variantes do
absolutismo. Não fundaremos mais partidos; o Estado é o seu estado de
espírito”, afirmou um dia. “Ninguém tem o direito de me julgar a não ser eu
mesmo. Eu me pertenço e de mim faço o que bem entender”. Não julguemos Raul.
Louvemos sua arte que é sua identidade. “A desobediência é uma virtude
necessária à criatividade”, assegurava.
(Para o poeta Paulo Seixas, raulseixista de Queimadas, na
Paraíba)
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