quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Há 170 nascia o genial poeta escravo Ignácio da Catingueira

Praça Ignácio da Catingueira
A Paraíba tem três poetas fundamentais: Augusto dos Anjos, Leandro Gomes de Barros e Ignácio da Catingueira. Augusto demarcou a transição da literatura brasileira para o modernismo. Leandro Gomes de Barros é considerado o pai da literatura de cordel e Ignácio da Catingueira foi o primeiro poeta repentista a ser consagrado pela sua genialidade. Era analfabeto, mas seus versos ficaram na memória do seu povo.
Augusto dos Anjos tornou-se um dos poetas mais lidos do país, sobrevivendo às mutações da cultura e a seus diversos modismos como um fenômeno incomum de aceitação popular. Leandro Gomes de Barros é considerado o primeiro escritor brasileiro de literatura de cordel, tendo escrito aproximadamente 240 obras. Foi chamado de "Príncipe dos Poetas" por Carlos Drummond de Andrade, em crônica publicada no Jornal do Brasil, em 9 de setembro de 1976. Ignácio era um negro escravizado que ficou nos registros históricos como um genial poeta repentista, em um tempo onde nem se usava a viola como acompanhamento nos desafios. Ele cantava tocando um pandeiro rudimentar.
Esses monumentos monumentais merecem um pleonasmo magnificente e de vera, em suas cidades, todos eles são mais ou menos lembrados, não como deveriam. Porque Augusto dos Anjos era para ser matéria obrigatória nas escolas públicas de Sapé. Os folhetos de Leandro Gomes de Barros constituiriam o orgulho e o conteúdo escolar também na cidade do Pombal. O escravo cantador Ignácio da Catingueira tem sua estátua na entrada da pequena cidade da micro região de Piancó, no sertão da Paraíba do Norte, com seus quatro mil habitantes, vaidosos da fama de seu cantador.
O Padre Manoel Otaviano, estudioso do folclore, diz: “Inácio morreu moço, aos trinta e dois anos ou trinta e três anos de idade. Dizem que ele nasceu em 1845. Segundo uns faleceu em 1881, 1882 segundo outros. A causa da morte foi forte pneumonia apanhada em trabalhos de roçado, queimando uma broca. Foi cativo também de Francisco Fidié que o herdou de seu sogro Manoel Luís, em 1875, quando tinha ele trinta anos completos. No inventário de Manoel Luiz foi avaliado por 1.200$000 na moeda do tempo.”
No tempo de Ignácio da Catingueira, a Igreja ainda discutia se negro e índio eram gente, se tinham algum tipo de alma. O Diabo católico era negro horroroso. Os escravos eram considerados animais irracionais. Sua religião fetichista do Candomblé ainda hoje é considerada “coisa do demônio” por brancos ignorantes. Na própria literatura de cordel, a figura do diabo é sempre um negro de olhos vermelhos. Foi nesse contexto que Ignácio da Catingueira infundiu respeito dos seus contemporâneos como o maior entre os maiores cantadores repentistas. Vencendo o preconceito racial e social, Ignácio virou mito com seu talento e originalidade.
Diz a lenda que o poeta escravo travou um desafio com Romano da Mãe D’água, a “besta fera” do repente naqueles idos. Foram oito dias e oito noites de contenda na rua principal de Pombal, com vitória de Ignácio no final do conflito poético. Até hoje, cantadores ainda torcem a cara para cantar com colegas negros ou com mulheres. Claro que antigamente, o preconceito era muito maior. Daí se tira a importância dessa porfia no inconsciente coletivo. Um escravo vencendo um poeta branco em praça pública, no século 19. Os versos do poeta analfabeto foram se propagando de geração em geração, resgatando o valor e a dimensão da arte desse Ignácio, que não tem o mesmo merecimento no panteão dos nossos poetas imortais.
Pelos registros históricos, Ignácio da Catingueira completa 170 anos de nascimento neste ano da graça de 2015. Leandro Gomes de Barros teve seu sesquicentenário bem lembrado durante todo o ano. Faltou alguém ressaltar a importância de Ignácio da Catingueira e, junto com seu engenho e extraordinária capacidade inventiva, abordar a presença das culturas de povos africanos na literatura popular brasileira, notadamente na literatura de cordel nordestina. 


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